Título: Derrota de governista na disputa por vaga no TCU acende alerta no Planalto
Autor: Jayme, Thiago Vitale
Fonte: Valor Econômico, 07/12/2006, Política, p. A8

O governo sofreu ontem sua primeira derrota pós-reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Congresso. O plenário da Câmara aprovou a indicação do deputado Aroldo Cedraz (PFL-BA) para integrar o Tribunal de Contas da União (TCU), derrotando o nome de Paulo Delgado (PT-MG), candidato da base aliada. Depois de sua reeleição, o presidente começou a articular a formação de uma coalizão no governo e no Congresso. A derrota é um alerta para o Palácio do Planalto para a disputa da Presidência da Câmara, a ser realizada em 1º de fevereiro. Cedraz foi escolhido com 172 votos contra 148 de Delgado, 50 de Gonzaga Mota (PSDB-CE) e 20 de Ademir Camilo (PDT-MG), além de seis em branco e três nulos.

A derrota no plenário demonstra que a base governista tem muito a melhorar sua articulação. O próprio processo de escolha de Delgado como o nome da base demonstra a falta de coordenação política. Até às 13h de ontem, os partidos ligados ao Palácio do Planalto tinham quatro outros candidatos: os deputados Luiz Antonio Fleury (PTB-SP) e Osmar Serraglio (PMDB-PR), o ex-deputado José Antonio Almeida (PSB-MA) e o secretário-geral da Mesa da Câmara, Mozart Vianna de Paiva.

Desde a terça-feira, os líderes da base organizavam uma votação prévia. Como nenhum candidato aceitava retirar sua candidatura (à exceção de Mozart), foi necessário fazer uma votação entre os deputados da base para a escolha. A consulta, no entanto, foi infrutífera. Apenas 215 dos 337 deputados das siglas aliadas votaram na enquete. E a diferença entre Serraglio, Delgado e Fleury não trouxe uma certeza da convicção da base - 79 votos para o petista, 53 para o petebista e 50 para o pemedebista.

Os líderes dos partidos que tinham candidatos - PT, PMDB, PTB, PSC e PSB - se reuniram a portas fechadas. Cada um dos postulantes falou seus motivos por tentar a vaga. Delgado pediu a palavra. Falou de sua situação pessoal com a não reeleição ao cargo de deputado. Chorou diante dos demais. Diferentemente de Serraglio - que continua deputado - e de Fleury - aposentado do Ministério Público -, Delgado não terá mandato.

O choro do colega sensibilizou os demais candidatos. Decidiu-se, então, não divulgar o resultado da prévia e avisar a imprensa que a escolha foi fruto de diálogo e unidade da base aliada. Serraglio, Fleury, Antonio Almeida e Mozart retiraram suas candidaturas. "Foi uma decisão por acordo político que mostra a união da base", afirmou o líder Henrique Fontana (PT-RS).

Na prática, a união, a exemplo de diversos episódios do primeiro mandato de Lula, não se consolidou. "O governo precisa aprender que não há vento favorável para quem não sabe para onde vai", disse o líder da Minoria, deputado José Carlos Aleluia (PFL-BA). "O governo não tem rumo, não tem articulação. A sessão de hoje é a fotografia do novo governo, que já começou velho", afirmou. Em relação à disputa pela presidência da Câmara, Aleluia afirma que o destino será o mesmo caso o governo "não tome juízo".

O ministro do TCU tem cargo vitalício e recebe salário de R$ 23,2 mil mensais. A corte é composta por nove ministros. Três são indicados pelo Presidente da República. Os demais são escolhidos pelo Congresso Nacional, onde há um revezamento entre a Câmara e o Senado. O nome de Cedraz ainda precisa ser ratificado pelo Senado.