Título: PMDB reage contra PT e decide disputar a Câmara
Autor: Ulhôa, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 07/12/2006, Política, p. A9

Depois de considerar o lançamento de um candidato do PT à presidência da Câmara uma espécie de "intimação", o PMDB decidiu ontem que também apresentará um nome para disputar o cargo, em reunião da bancada de deputados - inclusive os novos eleitos - prevista para terça-feira. O PMDB elegeu o maior número de deputados (89). "A Constituição e o regimento interno da Casa dizem que a maior bancada tem o direito de ter a presidência da Câmara", disse o presidente do PMDB, deputado Michel Temer. O PT elegeu a segunda maior bancada (83 deputados) contra 89 pemedebistas.

Com isso, o partido espera chegar com um nome próprio à reunião dos partidos que integram a coalizão governamental, prevista para quarta-feira, 13, com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no Palácio do Planalto. A intenção do PMDB é negociar com o Planalto de acordo com o "grau de inserção do partido no governo", segundo dizia ontem um de seus dirigentes.

O critério vale tanto para a presidência da Câmara como para a eleição do novo presidente da sigla, em convenção prevista para março de 2007. O ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) Nelson Jobim é o candidato do presidente Lula, mas só ganhará o apoio dos deputados e senadores na medida que o partido avaliar que sua participação no governo é efetiva e proporcional a seu tamanho.

O lançamento de uma candidatura petista serviu como um sinal de advertência para os pemedebistas, no qual identificam uma intenção de retomada de hegemonia do PT, sobretudo da seção paulista do partido. Pelo critério da Câmara, a maior bancada é que detém o direito de indicar o candidato a presidente. "Se a segunda bancada acha que tem esse direito, a terceira, a quarta, a quinta e sexta também podem reivindicar", argumentam líderes do PMDB e da oposição.

Os dois pré-candidatos do PMDB são os deputados Geddel Vieira Lima (BA) e Eunício Oliveira (CE). "Ninguém entra numa negociação impondo condições definitivas. Podemos convencer e ser convencidos", disse Geddel, um dos deputados mais empenhados numa aliança com o candidato petista, Arlindo Chinaglia. Mas o PMDB também pode indicar o nome do atual presidente, deputado Aldo Rebelo, cuja reeleição tem sido defendida pelo próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

"Nós vamos ouvir, opinar, dialogar com as lideranças políticas para ver qual é a melhor possibilidade", disse ontem o ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro. Ele também descartou a possibilidade de intervenção governista na bancada do PT. "Estaremos inaugurando, a partir deste mandato, um novo padrão de relacionamento entre o governo e o PT. Não haverá enquadramento", prometeu. Mas arrematou: "A bancada tem autonomia, mas terá de ter responsabilidade. E o momento da responsabilidade será o instante da votação em plenário", disse Tarso.

Apesar do aumento do pessimismo entre os aliados no Congresso, Tarso Genro diz não acreditar a coalizão de governo esteja em risco. "Todos os passos nascem do questionamento, discussão e consenso posterior. Não há qualquer indício de que a coalizão vai se dissolver. O processo político está apenas no começo".