Título: Agripino obtém apoio do PSDB contra Renan
Autor: Ulhôa, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 07/12/2006, Política, p. A9

O senador José Agripino (PFL-RN), líder do seu partido no Senado, conseguiu ontem o apoio formal do PSDB para sua candidatura à presidência da Casa, firmando-se como candidato da oposição, e não apenas do PFL. A decisão tomada ontem pelos tucanos é um complicador para a pretensão do atual presidente, Renan Calheiros (PMDB-AL), de se reeleger, embora ainda seja considerado favorito. Ele vinha trabalhando por um consenso - a cada dia mais improvável.

Renan ainda é considerado o candidato mais forte e tem, além do governo, apoios na oposição. No próprio PSDB, João Tenório (AL), suplente do governador eleito de Alagoas, Teotônio Vilela (PSDB), avisou ontem que votará em Renan, por causa da aliança estadual. Reservadamente, alguns senadores do PFL, com ligações no PMDB, também admitem preferência pelo pemedebista.

Renan tenta evitar o desgaste da disputa, principalmente pelo risco das traições, normais em votações secretas do Congresso, como é o caso da eleição da Mesa Diretora. Mesmo depois de saber que o PSDB havia decidido apoiar Agripino, Renan reafirmou que continuará trabalhando para evitar uma disputa.

O presidente do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE), justificou o apoio ao líder do PFL como um "gesto político" da oposição, para garantir um "equilíbrio" entre os Poderes da República, já que a presidência da Câmara dos Deputados será ocupada por um governista. Naquela Casa, a base aliada disputa o cargo e a oposição está fora.

"O presidente Luiz Inácio Lula da Silva está querendo esmagar qualquer tipo de oposição no segundo mandato. A oposição precisa ter pontos de resistência fortes", afirmou Tasso. Ele reuniu Agripino com a bancada tucana em seu gabinete, para um almoço. Uma das avaliações é que a disputa entre PT e PMDB pela presidência da Câmara pode beneficiar Agripino. O raciocínio é que setores aliados contrariados com o processo na Câmara tenderão a apoiar um candidato da oposição no Senado.

Para tentar convencer os tucanos, Agripino apresentou cálculos otimistas que mostrariam sua viabilidade eleitoral. Mesmo contabilizando defecções esperadas no PSDB e no PFL, disse acreditar ter pelo menos os 41 votos mínimos necessários à vitória. Considerou ter cinco ou seis votos de dissidentes do PMDB e três do PDT. O PDT, que terá cinco senadores na próxima legislatura, está conversando com Renan.

Três senadores atuais do PDT, Osmar Dias (PR), Cristovam Buarque (DF) e Jefferson Péres (AM), têm um alinhamento com a oposição no Senado e são contrários à provável adesão do partido ao governo Lula. Mesmo assim, tendem a apoiar Renan, que lhes garantiu a presidência da Comissão de Educação.

"A única coisa que o PDT quer é espaço para atuar. Não queremos que o PDT seja inviabilizado", afirmou Osmar Dias. "Estamos sendo pragmáticos. O PDT só apoiará um candidato que tenha chance efetiva. Não apoiaremos candidatura de protesto", disse Péres, negando considerar a candidatura de José Agripino como tal. O quarto senador atual do partido, Augusto Botelho (RO), e o recém-eleito João Durval (BA) são governistas e estão com Renan.

Em tese, os aliados de Agripino esperam que ele tenha os votos de pelo menos cinco dos seis senadores pemedebistas que se declararam independentes do governo na próxima legislatura - Jarbas Vasconcelos (PE), Garibaldi Alves (RN), Geraldo Mesquita (AC), Almeida Lima (SE) e Mão Santa (PI). O ex-governador Joaquim Roriz (DF), embora seja deste grupo, é contado como eleitor de Renan.

O pefelista disse ter feito um acordo com Renan, pelo qual a regra da proporcionalidade dos partidos será respeitada na composição dos demais cargos da Mesa, independentemente de quem seja vencedor. Renan confirma, e diz que esse é um princípio regimental que será cumprido.