Título: Oferta vai conter PIB em 2007, diz Ipea
Autor: Santos, Chico
Fonte: Valor Econômico, 06/12/2006, Brasil, p. A3

A taxa de crescimento de 5% para o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, prometida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva no dia da reeleição para seu segundo mandato, vai ter de ficar para um pouco mais à frente, de acordo com as projeções do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), órgão do Ministério do Planejamento. A equipe de acompanhamento conjuntural do instituto avalia que uma aceleração muito forte da economia esbarraria no gargalo da capacidade instalada da indústria, que está a apenas dois pontos percentuais do pico de 84% atingido em 2004.

"Estamos partindo de um investimento baixo. A capacidade de reação é limitada. Não dá para crescer muito rápido no curto prazo", afirmou Paulo Levy Mansur, diretor de Estudos Macroeconômicos do órgão. "O que conseguimos enxergar é 3,6%", disse, justificando a manutenção, no Boletim de Conjuntura de dezembro, da mesma previsão para o PIB de 2007 que havia sido feita três meses antes. Para o PIB deste ano, o Ipea reviu sua previsão de 3,3% para 2,8%, menor até do que os 2,86% da pesquisa feita pelo Banco Central (BC) com economistas.

Segundo Mansur, os dois pontos percentuais que faltam para que a utilização da capacidade instalada seja atingida foram transpostos em 2004 em apenas dois meses. Isso, na avaliação dos técnicos do Ipea, exige que, mesmo havendo capacidade ociosa a ser ocupada hoje, a aceleração produtiva seja gradual. Mansur ressaltou que o aumento da produção que ocorre hoje decorre de investimentos feitos no segundo semestre de 2004 e no começo de 2005.

A previsão do Ipea para 2007 parte de uma avaliação otimista da evolução do quadro econômico. O chefe do Grupo de Acompanhamento Conjuntural do instituto, Fabio Giambiagi, na apresentação da nova edição do Boletim de Conjuntura, disse que após 15 anos de um crescimento médio da ordem de 2,5% por ano, caracterizado por oscilações bruscas ao longo do período, o Brasil reúne agora condições para crescer mais e com mais estabilidade nos próximos anos.

Essa perspectiva, conforme está expresso no Panorama Conjuntural, espécie de editorial do boletim, ainda está condicionada a que o governo "faça sua parte" para aumentar o nível de poupança doméstica, ampliando seus investimentos e controlando os gastos correntes, para que esses investimentos sejam financiados com poupança do Estado.

No quadro que está posto atualmente, os analistas do Ipea avaliam que o consumo privado vai liderar a expansão econômica neste e no próximo ano, crescendo, respectivamente 4,2% e 5,2%. Os números, para o Ipea, indicam que não há problema de demanda e que a política monetária está correta. O problema é que a indústria está se expandindo menos que essa demanda, devendo, segundo as projeções, crescer 3,2% neste ano e 4,7% em 2007.

O crescimento da demanda está sendo em parte satisfeito pelo aumento das importações que, de acordo com os números do Ipea, aumentam 16,8% neste ano e 15,1% no próximo, diante de alta de apenas 4,6% e 3,6%, respectivamente, das exportações. Mesmo assim, o saldo comercial permanecerá próximo à atual casa dos US$ 40 bilhões. Para Mansur, o aumento das importações tem uma componente cambial, mas é, principalmente, resultado de fatores estruturais que estariam reduzindo a competitividade da indústria doméstica e impedindo que ela acompanhe a demanda. Os principais fatores seriam a carga tributária e o gargalo da infra-estrutura.

As projeções do Ipea mostram também que, ao lado do consumo, os investimentos estarão comandando o crescimento econômico pela ótica da demanda. A projeção para este ano é de aumento de 6% na chamada formação bruta de capital fixo (FBCF). Para 2007, a previsão é de 7,4%. O Ipea estima também que o PIB do quarto trimestre deste ano vai crescer 1,3% na comparação com o terceiro, retomando um ritmo de alta forte e carregando um resíduo estatístico que ajudaria a confirmar a estimativa de 3,6% para o PIB de 2007.