Título: PT ignora articulações de Lula e lança Chinaglia para presidência da Câmara
Autor: Costa, Raymundo e Jayme, Thiago Vitale
Fonte: Valor Econômico, 06/12/2006, Política, p. A8

O PT criou ontem um fato consumado para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao oficializar a candidatura do líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (SP) para a presidência da Câmara dos Deputados. Em conversas com dirigentes de partidos aliados, Lula tem manifestado preferência pela reeleição do deputado Aldo Rebelo. Ainda nesta semana, segundo auxiliares do presidente, ele chamará os dois para uma conversa e dirá que não aceitará o lançamento de uma candidatura avulsa dentro da base aliada, como ocorreu em 2005, o que permitiu a eleição do ex-deputado Severino Cavalcanti (PP-PE). Lula quer que os dois se entendam sobre a viabilidade eleitoral de cada uma das candidaturas e apenas um se apresente ao plenário na eleição.

"Fui informado pelo presidente do PT de que o partido lançaria, assim, como outros partidos, um nome para a presidência da Câmara", disse Lula à saída de uma reunião no Palácio do Planalto. "É preciso trabalhar junto com os outros partidos para ver se conseguimos ter uma candidatura única. Primeiro, acho que é um direito legítimo de todo partido lançar candidato. Segundo, eu acho mais legítimo ainda, na medida que têm muitos candidatos dos partidos da base, que eles se acertem e componham uma Mesa que seja a mais democrática e a mais representativa possível".

Em reunião reservada com líderes partidários, Lula disse que, se for o caso, os partidos devem fazer uma prévia interna para decidir qual o melhor nome. "Estou vendo aqui o Sandro Mabel (PL-GO), que trabalhou da outra vez pelo Arlindo Chinaglia e sei que está trabalhando novamente", brincou. Mabel disse ao presidente que, hoje, o melhor nome seria o de Chinaglia, como no passado recente, Aldo era o candidato mais forte. Para o senador Pedro Simon (PMDB-RS), com quem também conversou ontem, Lula disse que precisava trabalhar para não repetir o erro cometido em 2005.

Na prática, o PT emparedou o presidente. Nas conversas com os partidos, Lula sempre se manifestou favoravelmente à reeleição de Aldo Rebelo. Ainda na segunda-feira, em reunião com o PSB, o presidente fez referências elogiosas a Aldo e disse que ele era o seu candidato. O presidente da sigla, Roberto Amaral, questionou: "E o Arlindo?" Lula se limitou a responder que não fora "consultado" sobre a candidatura do deputado. "Mas ele é seu líder do governo", insistiu Amaral. Lula desconversou.

Ao contrário do esperado, a reunião da bancada petista para sacramentar o nome de Chinaglia foi pacífica, embora algumas vozes tenham manifestado certo desconforto com a forma da indicação. O momento mais tenso do encontro foi proporcionado pelo deputado Walter Pinheiro (BA), que se colocava como opção à bancada para concorrer à presidência. Quando a reunião do partido começou a tratar do tema da candidatura, uma nota que seria divulgada à imprensa foi distribuída pelo líder Henrique Fontana (RS). O texto teria de ser aprovado pela bancada e já trazia o nome de Chinaglia como o candidato do PT, sem deixar margem para debates e apresentações de novos nomes.

Pinheiro leu a nota e soltou uma gargalhada. "Assim, é fato consumado", reclamou, antes de se levantar e deixar a reunião sem conversar com a imprensa. Alguns deputado se irritaram com o fato de o Conselho Político do PT, formado em grande parte pela Executiva do partido, ter anunciado o nome de Chinaglia durante a manhã de ontem, antes de a bancada se pronunciar. "Houve um constrangimento de alguns deputados, com certeza", disse um deputado. "Foi uma decisão de cima pra baixo".

Até a semana passada, o presidente interino do partido, Marco Aurélio Garcia, procurava tratar a candidatura petista com distanciamento. Chegou a dizer que a posição de ter um nome era negociável. Ontem, Marco Aurélio mudou o tom. Disse que Chinaglia era o candidato "pra valer" do partido: "O nome não é para dar uma passeada na pista para cumprimentar a platéia. É para valer. E agora vai buscar apoio nas outras bancadas".

O PT tomou todo o cuidado possível para não atropelar o restante da base e evitar qualquer atrito. O nome de Chinaglia não foi colocado como "o candidato" do PT. "Por aclamação, decidimos que o partido apresenta o nome do líder Arlindo Chinaglia para ser incluído do diálogo da base do governo sobre qual será o nome de consenso para a disputa da presidência da Câmara", disse Fontana.

A idéia do PT é demonstrar a Aldo Rebelo (PCdoB), presidente da Câmara, de que o nome de Chinaglia é, hoje, mais viável. Argumentam que o comunista tomou decisões pouco carismáticas para o baixo clero ao cortar gastos de gabinetes e restringir contratações. Setores do PMDB alinhados a Chinaglia dizem o mesmo. Nos bastidores, os dois pré-candidatos pemedebistas - Geddel Vieira Lima (BA) e Eunício Oliveira (CE) - já avisaram que o partido só abre mão em favor de um nome petista. A sigla elegeu o maior número de deputados em outubro. Terá 89 cadeiras. Pela tradição, a maior bancada tem a presidência.

O PMDB avalia a proposta de um acordo com o PT que envolveria a disputa pela presidência da Câmara em 2009. Hoje, Chinaglia teria o apoio dos pemedebistas em troca da eleição de um deputado do PMDB na próxima disputa, como o apoio do partido de Lula.