Título: Doadores citados contribuíram com outros eleitos
Autor: Basile, Juliano
Fonte: Valor Econômico, 06/12/2006, Política, p. A9

Se os ministros do TSE acompanharem o parecer conclusivo dos técnicos do tribunal que rejeitou as contas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a classe política brasileira pode se preparar para uma grande uma reviravolta. As empresas que podem impedir a diplomação de Lula também doaram a dezenas de candidatos eleitos, do alto ao baixo escalão, oposição e situação. São governadores, senadores deputados federais e deputados estaduais que, em tese, também tiveram contribuições consideradas ilegais pela mais alta Corte eleitoral do país.

O estrago começaria com os governadores eleitos nos três maiores Estados. José Serra (PSDB-SP) foi beneficiário de R$ 1 milhão da OAS, R$ 700 mil da Caemi e de R$ 100 mil da Carioca Christiani Nielsen Engenharia, três empresas que, segundo o TSE, são concessionárias públicas e, portanto, proibidas de doar. A OAS doou R$ 800 mil a Sérgio Cabral (PMDB-RJ) e a Carioca Christiani R$ 300 mil a Aécio Neves (PSDB-MG). Outros quatro governadores eleitos também seriam prejudicados: Marcelo Déda (PT-SE), Teotônio Vilela Filho (PSDB-AL), Luiz Henrique Silveira (PMDB-SC), Jaques Wagner (PT-BA), Wellington Dias (PT-PI) e Paulo Hartung (PMDB-ES).

No Congresso, os planos da base governista de eleger o presidente da Câmara teriam de ser alterados, já que os pretendentes Arlindo Chinaglia (PT-SP) e Aldo Rebelo (PCdoB-SP) enfrentariam problemas na Justiça Eleitoral paulista. Da CSN, o petista recebeu R$ 70 mil e o comunista, R$ 100 mil. A base também perderia votos com a ausência de petistas paulistas, como José Eduardo Cardozo, José Genoino, Carlos Zarattini e Ricardo Berzoini. O ministro de Lula e segundo deputado mais votado, Ciro Gomes (PSB-CE), também poderia não ter aprovadas suas contas, em razão da doação de R$ 300 mil pela Caemi, que também doou a mesma quantia a Jader Barbalho (PSDB-PA). A oposição perderia força com as ausências de José Carlos Aleluia (PFL-BA), Fernando Gabeira (PV-RJ), Jutahy Magalhães e Luiz Carlos Hauly (PSDB-PR).

O Senado poderia perder um ex-presidente da Casa e da República, José Sarney, que recebeu R$ 400 mil da Caemi. Além dele, estariam implicados Eduardo Suplicy (PT-SP), Francisco Dornelles (PP-RJ) e Inácio Arruda (PCdoB-CE).