Título: Aliados históricos, dizem a Lula que podem divergir, apesar de coalizão
Autor: Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 05/12/2006, Política, p. A6

Aliados históricos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, PSB e PCdoB deram demonstrações claras ontem de que participarão da coalizão governamental sem abrir mão do direito de defender com firmeza suas convicções.

O presidente nacional do PCdoB, Renato Rabelo (SP), confirmou que a legenda votará unida com o governo, mas que poderá divergir da orientação do Executivo caso este se oponha ao programa partidário.

O PSB apóia as medidas de crescimento econômico que vêm sendo debatidas no governo federal, mas avisou ao presidente que contratou um grupo de economistas para, internamente, apresentar suas contribuições ao debate econômico.

Os dois partidos também lembraram que são aliados históricos de Lula - estiveram juntos com o PT em praticamente todas as eleições presidenciais. Mas afirmaram que não há, nessa lembrança, qualquer intenção de pleitearem um tratamento diferenciado na coalizão.

" Nós sempre defendemos a coalizão. Sempre soubemos que, para governar o Brasil, não adianta apenas os partidos de esquerda. Precisamos de uma coalizão ampla, de centro-esquerda " , defendeu Rabelo.

Rabelo avalia que os impasses políticos, mais do que as questões econômicas e ambientais, embaçaram o crescimento do PIB brasileiros nos últimos anos. Por isso, em sua visão, é fundamental que o presidente Lula tenha uma maioria confortável no Congresso - " não uma vantagem de apenas um voto " - para implementar todas as propostas que levem à retomada do desenvolvimento do país.

O presidente do PCdoB, no entanto, lembrou que, apesar das concordâncias gerais, quando o governo enveredar para projetos ou ações que firam os programas partidários, será necessário fazer uma reunião interna.

Quando questionado se isso aconteceria, por exemplo, dentro dos debates sobre uma eventual reforma da Previdência, Rabelo desconversou. " Isso não está nos planos do governo " . Mas lembrou que, em 2002, o partido discordou da " Carta ao Povo Brasileiro " , embora tenha entendido a necessidade do documento naquele momento.

O presidente do PSB e governador eleito de Pernambuco, Eduardo Campos, defendeu uma participação mais efetiva dos partidos aliados neste segundo mandato. Lembrou que, para um governo dar certo, não adianta ter maioria apenas no Congresso, mas maioria também na sociedade.

Para Campos, o Conselho Político deve ter reuniões constantes, a exemplo do Conselho de Desenvolvimento Econômico Social e os conselhos setoriais. " É preciso um fórum constante de discussão com o presidente. Se as informações não forem repassadas aos aliados, a militância estará aquém de suas possibilidades de ação " .

Tanto Campos quanto Rabelo asseguraram que Lula não pretende interferir diretamente na sucessão da Câmara. Campos, no entanto, afirmou que seu partido expôs ao presidente, em diversas vezes, a simpatia pela reeleição de Aldo Rebelo (PCdoB-SP) para a presidência da Casa. " Em time que está ganhando, não se mexe " , filosofou Campos, numa metáfora futebolísticas típica de Lula.

O ex-ministro Ciro Gomes, estrela do PSB, ex-integrante do Conselho Político até a eleição deste ano, que na semana passada criticou duramente a Petrobras e a aliança do governo com o PMDB, não esteve no Palácio com o grupo do partido.