Título: Parceria e responsabilidade social
Autor: Sobel, Clifford
Fonte: Valor Econômico, 05/12/2006, Internacional, p. A13

Como ex-empresário, tenho condições de avaliar o papel fundamental da responsabilidade cidadã do setor privado na sociedade de hoje. Isso se aplica tanto ao empresariado do Brasil quanto ao dos Estados Unidos. As empresas privadas devem não apenas ter responsabilidade cidadã, mas serem líderes, na medida em que incorporam princípios de consciência social e ambiental, inovação, oportunidades e igualdade. Por meio de tais iniciativas, o setor privado tem a capacidade de criar empregos e proporcionar melhores condições de vida. Contudo, além de sua importância para a criação de novos postos de trabalho, o setor privado tem a capacidade de respaldar as instituições democráticas e fortalecer a cidadania.

Nas palavras do empresário brasileiro e grande defensor da filantropia e da responsabilidade social empresarial, Oded Grajew: "É inegável que as práticas filantrópicas vêm amadurecendo. Cresce a consciência de que esse tipo de ação deve ser constante, persistente e com compromisso, envolvendo todos os atores sociais. Cresce também entre as empresas a visão de que uma prática de intervenção socialmente responsável traz ganhos para o seu negócio, sua imagem e, principalmente, para a sociedade."

Um excelente exemplo de como o governo dos EUA reconhece as realizações das empresas americanas que operam no exterior é a outorga do Prêmio de Excelência Corporativa (ACE), concedido anualmente pelo Departamento de Estado. A secretária de Estado, Condoleezza Rice, entregou recentemente, em Washington, DC, o ACE a três empresas americanas que estão realizando excelente trabalho de responsabilidade social, todas elas na América Latina: a General Motors, na Colômbia, a Goldman Sachs, no Chile, e, na categoria de pequena empresa, a Sambazon, no Brasil, reconhecida por suas relevantes iniciativas sociais e ambientais na região amazônica.

A Sambazon foi criada em 2000 por três jovens surfistas americanos que visitaram o Brasil para a passagem do novo milênio e descobriram as qualidades nutritivas do açaí. Desde seu início, a empresa enfatizou a importância da colheita sustentável, pagando salários acima da média às famílias locais que colhem o fruto e ao mesmo tempo combatendo o desmatamento. A empresa tem parceria com quatro cooperativas da Amazônia (representando mais de 20 mil pessoas) que ajudam a colher o açaí orgânico, garantindo preços justos e colheita sustentável por meio de um programa de manejo florestal.

Embora ainda seja pequena, a Sambazon cresce ano a ano. Em julho último, a empresa construiu uma fábrica de processamento no Amapá que emprega outras 70 pessoas. A maior parte do financiamento da fábrica foi proveniente da Corporação para Investimentos Privados Internacionais, organização do governo dos EUA que empresta dinheiro a empresas com propostas promissoras de promoção do desenvolvimento econômico no exterior.

O sucesso da Sambazon, tanto com a introdução de um suco cada vez mais popular no exterior, quanto com a promoção da colheita sustentável, demonstra que é possível crescer sob sólidas bases sociais e ambientais. Além disso, esse sucesso mostra que as pequenas empresas podem de fato desempenhar importante papel na promoção da responsabilidade social.

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Nesse sentido, a concessão do Prêmio de Excelência Corporativa à Sambazon é um reconhecimento natural a uma empresa que expressa no exterior as melhores qualidades dos EUA - compaixão, inovação, liderança e participação da comunidade. Em cada empresa ganhadora do ACE reconhece-se também a liderança empresarial que não visa apenas o lucro, mas constrói pontes com os países anfitriões e melhora a vida de um sem-número de homens, mulheres e crianças no mundo. Com a escolha da Sambazon, é a terceira vez que uma empresa americana no Brasil recebe o prestigioso prêmio, após a Motorola em 2004 e a Xerox, no primeiro ano de outorga do ACE, em 1999. As três empresas dão um excelente exemplo a ser seguido por outras organizações.

A responsabilidade social das empresas é amplamente praticada no Brasil e a Embaixada dos Estados Unidos, em estreita parceria com empresas brasileiras e americanas e Câmaras Americanas de Comércio, trabalha com as ONGs locais para extrair o máximo de nossos especialistas com o fim de promover educação e alfabetização, melhorar a saúde e a nutrição e proteger o meio ambiente.

Nossas parcerias com entidades locais são um reconhecimento da criatividade e da energia do povo brasileiro para encontrar soluções adaptadas às realidades daqui. Como disse o empresário americano e grande filantropo David Rockefeller em recente entrevista à revista Veja, "cada país da América Latina tem tradições enraizadas de caridade e sociedades civis muito vibrantes. Essa é a base sobre a qual uma estrutura filantrópica local deve ser construída".

Muito está sendo feito, mas muito mais pode ser feito para aumentar os recursos investidos em programas de responsabilidade social. Parceria é uma palavra que aprendi em português e a uso com freqüência. Ela expressa tudo o que acabei de falar, e acredito firmemente que uma parceria entre os EUA e o Brasil e entre os setores público e privado reforçará o tripé de desenvolvimento econômico, social e ambiental no hemisfério. Esta é nossa agenda.

Clifford Sobel é embaixador dos EUA no Brasil.