Título: Após quatro meses, Varig ainda ensaia recuperação
Autor: Vilella, Janaina e Campassi, Roberta
Fonte: Valor Econômico, 05/12/2006, Empresas, p. B2

Quatro meses após a Varig ter sido vendida para sua ex-subsidiária de logística, VarigLog, a companhia aérea vem afirmando que poderá incorporar mais 15 aviões à sua frota - além dos 15 que já opera - assim que receber o Certificado de Homologação de Empresa de Transporte Aéreo (Cheta) da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).

O que permanece incerto, no entanto, é como a Varig vai elevar sua frota, uma vez que as principais companhias de leasing (aluguel) de aviões garantem que não fecharão contratos com a empresa, especialmente num momento em que a demanda por aviões está aquecida.

"Não vamos mais trabalhar com a Varig e será muito difícil alugar aviões para qualquer outra companhia de menor porte no Brasil", afirmou Joe Hermosillo, vice-presidente para América Latina da International Lease Finance Corporation (ILFC), a maior empresa de leasing de aeronaves do mundo. A ILFC mantém um avião no Brasil cujo motor está quebrado. A decisão da empresa se deve "tanto à experiência ruim com a Varig quanto ao risco do sistema legal brasileiro." Outros arrendadores, como a General Electric Commercial Aviation Services (Gecas) ou a Macquaire Air Finance (antiga GATX), que já retiraram seus aviões da Varig, negam quaisquer possibilidades de fechar novos contratos com a companhia aérea.

Para conseguir ampliar a frota, e assim tentar conquistar uma fatia maior do que os 5% do mercado que detém hoje, a Varig encontra duas opções: negociar contratos com as empresa de leasing a taxas mais altas ou comprar aeronaves.

O fundo MatlinPatterson, sócio da VarigLog, dona da Varig, comprou, em outubro, oito aviões Boeing 737-300 da empresa de leasing Bavaria. Além da Varig, o MatlinPatterson possui em sua carteira de investimentos uma outra companhia aérea, a americana ATA. Contatada pelo Valor, a assessoria de imprensa da ATA negou que os oito aviões estejam destinados a ela. Contatados pelo Valor, a Varig não se pronunciou sobre essa operação e o MatlinPatterson não retornou as ligações da reportagem.

A Varig, porém, não descarta a compra de aeronaves como forma de ampliar a frota. Em agosto, ela deu entrada no BNDES com uma carta-consulta para obter empréstimo de US$ 1,6 bilhão para comprar 50 aeronaves da fabricante brasileira Embraer.

A companhia aérea argumenta que um dos entraves para a negociação com os arrendadores está na espera para conseguir o Cheta. Dirigentes da Anac, por sua vez, vinham responsabilizando os novos controladores da Varig aérea pela demora na entrega de documentos necessários para obtenção do certificado. Na quinta-feira passada, no entanto, a Anac afirmou ter recebido os documentos necessários para a autorização. Ontem, os diretores da agência se reuniram em Brasília para discutir a questão, mas até o fechamento desta edição o encontro não havia terminado.

Executivos da Varig têm viajado com freqüência para o exterior para negociar novos contratos com empresas de leasing, na expectativa da liberação do certificado ainda este mês.

Apesar de ainda ocupar a terceira posição entre as companhias aéreas brasileiras em número de passageiros, a Varig recuperou participação no mercado doméstico e melhorou seus índices de pontualidade desde sua venda, há quatro meses, para a ex-subsidiária de logística VarigLog. Mas ainda depende da emissão do Cheta para alçar vôos mais altos, inclusive no mercado internacional. A empresa tem operado com as concessão da antiga companhia.

Durante congresso realizado na semana passada em Cancún, pela Asociación Latinoamericana de Transporte Aéreo, o presidente da VarigLog, João Luís Bernes, afirmou que "a Varig ainda está viva e vai decolar novamente". "Temos mais 15 ou 16 aviões para recebermos imediatamente após a emissão do Cheta. Nossas concorrentes devem estar preparadas", afirmou.

Dados divulgados pela Anac em outubro revelam que, no mercado doméstico, a Varig melhorou sua participação em relação a julho, mês de sua venda, apesar de ainda estar longe do que era um ano antes. Em outubro, a companhia tinha 5,08% do mercado de vôos domésticos contra participação de 3,54% registrada, em julho. Em outubro de 2005, sua fatia era de 24,25%, segundo a Anac. No mercado internacional, filão mais lucrativo, a companhia viu sua participação cair de 29,96% em julho para 18,47%, em outubro.

A empresa também registrou significativas melhoras nos índices de eficiência operacional, regularidade e pontualidade desde sua venda para a VarigLog. Dados da Anac revelam que o índice de eficiência nas rotas domésticas saltou de 15% em julho para 81% em outubro. No quesito regularidade doméstica, o desempenho da Varig passou de 17% em julho para 88% no mês passado não muito distante da TAM, que liderou o índice, com 93% de regularidade, seguido da Gol com 91%.

Até o dia do leilão, em 20 de julho, a Varig contava com uma frota de aproximadamente 40 aeronaves que voavam para 28 cidades no Brasil e 17 no exterior. Com a venda, grande parte da frota ficou impedida de operar porque as empresas de leasing conseguiram liminares que garantiam a retomada dos aviões. Isso levou a companhia a suspender, por cinco dias, todos os vôos nacionais e internacionais. Nesse período, a Varig operou apenas na ponte aérea Rio-São Paulo.

Com a renegociação de alguns contratos, a empresa voltou gradativamente a recompor a frota. Hoje, opera com 15 aviões para quatro destinos no exterior (Frankfurt, Caracas, Buenos Aires e Bogotá) e 12 no país. A expectativa é de que nos próximos dias mais três aeronaves que estavam em manutenção também voltem a voar, segundo a Varig. O aumento da frota possibilitaria à empresa contratar 1.600 novos empregados.