Título: ISA prevê desembolsar mais US$ 99 milhões pela CTEEP
Autor: Capela, Maurício
Fonte: Valor Econômico, 05/12/2006, Empresas, p. B8

Basta conversar com alguns analistas do setor de energia no Brasil para perceber que sempre surge uma ponta de desconfiança quando o assunto é a colombiana ISA. Isso ocorre porque depois de desembolsar US$ 535 milhões por 50,01% das ações ordinárias da Cia. de Transmissão de Energia Elétrica Paulista (CTEEP), que pertenciam ao governo paulista, em meados deste ano, a companhia ainda precisará oferecer a mesma oportunidade aos demais acionistas. Em outras palavras, se os outros 49,99% exercerem esse direito, isso significará adicional em torno de US$ 430 milhões na operação. E o mercado tem dúvidas sobre o tamanho do fôlego financeiro da colombiana.

Ontem a empresa cumpriu mais uma etapa da compra da CTEEP e publicou o edital de aquisição das ordinárias restantes e agora os interessados terão um mês para aderirem.

Fernando Rojas, o futuro presidente da ISA Capital do Brasil, subsidiária integral do grupo colombiano e controlador da CTEEP, afirma que já espera um acréscimo nos US$ 535 milhões. "Os cerca de 15% das ações ordinárias que pertencem aos empregados serão recomprados, porque eles já se manifestaram e, provavelmente 8% dos 10% que estão no mercado também deverão negociar os papéis", afirma o executivo ao Valor.

Caso o cálculo do executivo se traduza em realidade, a ISA terá que arcar com mais US$ 98,9 milhões, elevando a operação para perto de US$ 634 milhões.

No entanto, este número ainda poderá subir e bastante. Isso, porque há 25% de ações ordinárias que estão nas mãos do governo federal (15%) e Eletrobrás (10%) e até o momento nenhum dos dois se manifestou sobre o assunto. "Não tivemos nenhuma resposta formal às nossas consultas", afirma Rojas.

Mesmo não possuindo indicativo algum, o futuro presidente da ISA Capital do Brasil, que aguarda somente a liberação do seu visto de trabalho para exercer a função no país, acredita que nem Eletrobrás e tampouco o governo federal sairão da CTEEP. A crença de Rojas se baseia no fato de que a ISA e a Eletrobrás poderão desenvolver parcerias importantes não só no Brasil, mas também no exterior.

O grupo da Colômbia está dando início a esta oferta por conta do direito de "tag along". Trata-se de uma ferramenta do mercado de capitais que garante ao acionista minoritário receber parte ou total do valor pago ao controlador no caso de venda da empresa. No caso da CTEEP, o valor dessa recompra está previsto em edital e é equivalente a 80% do preço pago pelo lote de mil ações do bloco de controle.

Trocando em miúdos, como a ISA pagou R$ 38,09 pelo lote de mil ações ordinárias do governo paulista, logo esse direito dos minoritários corresponde a R$ 30,4. Analistas ouvidos pelo Valor são categóricos em dizer que é natural que os minoritários venham a aderir a este movimento. "Como eles desembolsaram um valor alto pela companhia, o preço das ações ordinárias está em um patamar elevado. Mas esse valor, depois que terminar o prazo de oferta, não se sustentará por muito tempo", avalia Felipe Cunha, analista de Energia do Banco Brascan.

A colombiana pagou um ágio elevado, algo como 58%, para ficar com a companhia de transmissão de São Paulo. E volume de recursos aplicado tinha um motivo: ganhar mercado.

Na prática, com a compra da transmissora paulista, a ISA dobrou de tamanho. Ela somou aos seus 16,8 mil quilômetros de linhas de transmissão e ao seu faturamento de US$ 471 milhões, os cerca de US$ 500 milhões de receita e os 18,2 mil quilômetros de linhas da CTEEP. E além disso, os executivos colombianos são claros ao dizer que esse ativo era uma oportunidade única e não havia espaço para deixar passar a chance de colocar um pé no Brasil.