Título: Ressentimento explícito na cerimônia de posse
Autor: Sassine, Vinicius
Fonte: Correio Braziliense, 04/01/2011, Politica, p. 4

NOVO GOVERNO Deputado que usou verba parlamentar para pagar festa em motel, Pedro Novais assume o Ministério do Turismo e, no discurso, diz não ter feito nada de que se envergonhasse Com a mulher e os filhos na plateia e ao lado do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), e do vice-presidente da República, Michel Temer (PMDB-SP), o novo ministro do Turismo, Pedro Novais (PMDB-MA), tomou posse ontem. Envolvido em escândalos antes mesmo de ser empossado, Novais correu o risco de ser eliminado do mapa ministerial pela presidente Dilma Rousseff.

O deputado, que usou verba parlamentar para pagar as despesas de uma festa num motel, manteve-se no posto graças à fiança do PMDB. Os principais caciques da legenda participaram da posse na tarde de ontem, no Ministério do Turismo, onde Novais, 80 anos, aproveitou o discurso para se defender das acusações e, ao fim da cerimônia, recusou-se a falar com a imprensa.

Deputado federal por seis vezes ¿ foi eleito novamente para o cargo em outubro, com 89,6 mil votos ¿, Pedro Novais gastou R$ 2.156 num motel em São Luís (MA) e pediu ressarcimento à Câmara. Uma festa teria ocorrido na suíte do motel reservada pelo parlamentar.

A repercussão do caso quase tirou Novais do cargo que nem havia assumido. Pesou o apoio de José Sarney e de Michel Temer, presentes ontem na cerimônia de posse.

¿Criticam-me pelos 80 anos. Condenam-me¿, iniciou o ministro, logo após elencar os vários cargos públicos que já ocupou. ¿Só fui hospitalizado por duas vezes. Uma, há 10 anos, para operar uma hérnia.

A outra, na década de 1950, para retirar as amígdalas.¿ Pedro Novais demonstrou irritação com as acusações que precederam sua posse. Piadas se espalharam em redes sociais na internet, principalmente no Twitter, relacionadas à vida sexual do deputado.

¿A convocação de Dilma representou uma das maiores honrarias da minha vida, mas veio acompanhada de uma campanha de calúnias e ignomínias¿, desabafou o ministro. ¿Acima de tudo, sustentou-me a certeza de não ter cometido nenhum ato que possa me envergonhar.¿ O que o sustentou no cargo, segundo Novais, foram o apoio da mulher, dos filhos, dos amigos, do partido e do governo. A mulher esteve ao lado do marido durante os cumprimentos. Os filhos entraram na fila para cumprimentar o pai. Além da família, o PMDB buscou reforçar o apoio ao ministro.

Além de Sarney e Temer, estiveram presentes na posse os ministros da Agricultura, Wagner Rossi; de Minas e Energia, Edison Lobão; e da Previdência, Garibaldi Alves ¿ todos do PMDB. O novo presidente da sigla, senador Valdir Raupp (RO); o líder do partido na Câmara, deputado Henrique Alves (RN); e a governadora do Maranhão, Roseana Sarney, foram os outros caciques do PMDB que compareceram à posse do novo ministro do Turismo. Pedro Novais não economizou agradecimentos. ¿Nunca serei suficientemente grato ao meu líder e ao meu vice-presidente, que indicaram o meu nome.¿ A José Sarney, referiu-se como ¿amigo e mestre¿.

O gasto de verba parlamentar com um motel em São Luís não foi a única referência a irregularidades feita pelo novo ministro do Turismo na solenidade de posse. Ele anunciou um ¿esforço concentrado¿ para os próximos 120 dias, que inclui o fim de repasses de recursos do ministério para o custeio de festas e de grandes eventos. Era esse um dos principais ralos de dinheiro público, principalmente por meio de emendas parlamentares que solicitam os repasses para entidades suspeitas ou mesmo inexistentes. ¿Vamos agilizar a máquina administrativa e eliminar áreas críticas, como o financiamento de festas, por onde escoa dinheiro público.¿

Outras medidas pregadas são o reforço do turismo interno, a atração de mais turistas internacionais, a criação de melhor infraestrutura turística nos aeroportos e a busca de apoio no Congresso para flexibilizar a concessão de vistos a estrangeiros. Ao fim da cerimônia e dos cumprimentos dos convidados, assessores blindaram Pedro Novais, para evitar o contato com os jornalistas. O próprio ministro ignorou as perguntas feitas e saiu, sem dar entrevista, por uma sala do auditório.