Título: Fundos aquecem fusões e aquisições
Autor: Silva Júnior, Altamiro
Fonte: Valor Econômico, 05/12/2006, Finanças, p. C1

Os fundos de private equity (que compram participações em empresas) nunca fizeram tantos investimentos no Brasil como este ano. Os recursos dos fundos foram decisivos para a conclusão de várias operações de fusões ou aquisições, aponta um estudo da Ernst & Young. Em 2004, eles participaram de 23 negócios ou 7% do total das operações do mercado. Em 2005, foram 49, equivalentes a 12% dos negócios. Este ano, até setembro, já são 69 transações ou 18% do total. Ao mesmo tempo, a participação do chamado investidor estratégico se reduziu, passando de 354 operações em 2005 para 323 este ano.

O aumento participação dos private equities em fusões e aquisições no Brasil reflete um movimento que já vem ocorrendo nos Estados Unidos e Europa há algum tempo. Com a queda dos juros americanos, muitos investidores institucionais, como fundos de pensão, venderam títulos do governo dos EUA e passaram a aplicar nos fundos de private equity, na esperança de retornos maiores.

Com mais de US$ 150 bilhões de dólares nas carteiras, os fundos partiram para as compras, avalia Edward Kleinguetl, sócio da Ernst nos Estados Unidos. Nos primeiros seis meses do ano, eles investiram US$ 1,54 bilhão na região, mais do que o US$ 1,02 bilhão de 2005.

Kleinguetl esteve em São Paulo no final de novembro para discutir o crescimento das fusões e aquisições no Brasil. Este ano, elas prometem bater recordes. Até setembro, foram realizados 392 negócios, frente a 403 em todo o ano de 2005, segundo os dados da Ernst & Young. Ou seja, até o final do ano, os números de 2006 devem superar de longe os do ano passado. "Os fundos de private equity ainda têm muitos recursos disponíveis para investir", afirmou.

No Brasil, 23 fundos já foram criados este ano, com patrimônio de R$ 6,2 bilhões. Os números são bem maiores quando comparados a 2005. No ano passado, foram nove fundos, com R$ 2,2 bilhões, segundo dado da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Além dos fundos já criados este ano, outras duas carteiras estão em processo de captação no mercado e devem reunir mais R$ 500 milhões.

Ao contrário do mercado americano, onde os fundos participam de operações gigantescas, aqui, os gestores costumam investir em empresas médias, com alto potencial de crescimento, nas quais os donos não têm mais capital para financiar o crescimento, avalia o professor Winston Fristch, sócio-diretor da Rio Bravo Investimentos. Os aportes médios são de US$ 20 milhões a US$ 30 milhões por empresa. Nos EUA ou Europa, investimentos acima de US$ 500 milhões são comuns.

Na avaliação de Patrice Etlin, diretor do Advent International, fundo responsável por um dos maiores negócios dos private equities no país este ano, a compra da Brasif (que opera "free shops" nos aeroportos), por US$ 500 milhões, três fatores explicam o aquecimento do mercado: disposição dos bancos em oferecer crédito para financiar as aquisições, grandes investidores dispostos a colocar recursos nos fundos e mercado de capitais aquecido para a venda de ações. Dos cerca de 20 lançamentos de ações deste ano, mais da metade contou com a venda de papéis destes fundos (o desinvestimento).

Foi justamente o crédito dos bancos que ajudou a conclusão da compra da Brasif, diz Etlin. Metade dos US$ 500 milhões veio do fundo e a outra metade foi financiada por bancos. O Advent tem patrimônio de US$ 375 milhões para investir no Brasil e México.

A participação dos fundos de private equity está mudando o ritmo das fusões e aquisições, avalia o estudo da Ernst. Por serem especialistas em fusões, os fundos estão dando maior agilidade a estas operações, normalmente demoradas. Como querem sair do investimento com altos retornos, os fundos se preocupam com a boa gestão dos negócios da empresa e aceleram a consolidação de alguns setores.

Para 2007, as projeções dos especialistas são de um aquecimento ainda maior, principalmente em busca de oportunidades escondidas nas diversas regiões do Brasil, como redes de varejo do Nordeste ou do Sul ou ainda o setor de agronegócios do Centro-Oeste, do interior de São Paulo ou Minas Gerais. Há também os esperados investimentos em infra-estrutura "Ainda existem muitos setores que estão passando por um movimento de consolidação", destaca Carlos Miranda, sócio-líder da área de assessoramento de fusões e aquisições da Ernst & Young no Brasil.

Etlin, do Advent, avalia que o movimento de compra de empresas por fundos "está apenas começando". Para o executivo, muito do que foi captado este ano no mercado vai financiar um novo ciclo de investimentos em 2007.

Um movimento que ganhou força em 2006 foi a compra de companhias estrangeiras por brasileiras. "O Brasil é a economia mais robusta da América Latina e as empresas brasileiras querem ser competitivas no mercado global", avalia Kleinguetl. Ele participou de uma das maiores operações do mundo este ano, a compra da Inco pela Vale do Rio Doce, por US$ 13,3 bilhões.