Título: Setubal defende revisão da remuneração da poupança
Autor: Carvalho, Maria Christina
Fonte: Valor Econômico, 05/12/2006, Finanças, p. C3

O presidente do Banco Itaú, Roberto Setubal, defendeu, ontem, a revisão das regras de remuneração da poupança para abrir espaço para a redução dos juros. Com um retorno de 6% real, a caderneta de poupança já está pressionando os fundos de investimento e tem um retorno mais elevado do que a taxa Selic líquida real.

A poupança coloca um piso de de juro para o crédito imobiliário, uma das mais fortes apostas do banco para o crescimento futuro. Falando ontem a analistas da Apimec-São Paulo, Setubal relacionou o crédito imobiliário entre os caminhos de crescimento futuro do banco, ao lado da exploração dos clientes não correntistas pro meio do braço Taií e dos negócios internacionais, recentemente ampliados com a aquisição das operações do BankBoston no Chile e Uruguai, além do próprio Brasil.

Mas, é no crédito imobiliário que o banco vislumbra uma das principais alternativas, disse Setubal na reunião com analistas, que contou com a presença na platéia excepcional de Milu Vilela, uma das principais acionistas do Itaú.

O Itaú desembolsou neste ano R$ 1,7 bilhão em crédito imobiliário, superando as previsões. E a previsão é que a as concessões atinjam R$ 2 bilhões em 2007. O número pode quintuplicar até 2010, disse Ricardo Marino, filho de Milu, que acompanha de perto a área.

O banco remodelou a plataforma de concessão de crédito imobiliário nos últimos dois anos de modo que reduziu para 15 dias o prazo de fechamento dos contratos. Além disso, está desenvolvendo novos canais de distribuição, como corretores.

De acordo com dados apresentados por Setubal aos analistas, o financiamento imobiliário representa apenas 5% do crédito ao consumidor no Brasil, enquanto no Chile e no México chega perto de 70%. Na América Latina, representa, em média, 37,5% do crédito ao consumidor.

Para deslanchar, porém, é preciso desenvolver também alternativas de funding no mercado de capitais. Para Setubal, o prazo curto da poupança também não é adequado para o desenvolvimento do mercado de capitais. O crédito imobiliário precisa de uma combinação de prazos mais longos e juros mais baixos, disse Setubal.

Outra aposta firme do Itaú para crescer no futuro é o cliente não correntista. O presidente do banco afirmou que o número de clientes correntistas cresce a uma média de 4% ao ano, o que está limitando da expansão da receita de serviços à própria emissão de cartões de crédito. A penetração de cartões na base de clientes, segundo Setubal, está estabilizada em 45% - representando 3,96 de 4 milhões de cartões. "Não podemos ficar limitados à expansão da base de clientes. Precisamos crescer mais", afirmou Setubal.

Sinal disso é o fato de a Taií, braço de financiamento ao consumo do Itaú, que começou a ser implantada no ano passado, já tem 5,2 milhões de cartões, inclusive os private label. Boa parte da expansão dessa carteira veio das parcerias com as empresas de varejo Lojas Americanas e Pão de Açúcar, que permitiram a emissão dos cartões private label.

Apesar disso, a Taií ainda opera no vermelho, em boa parte pelos elevados investimentos que vem fazendo. O número de lojas, por exemplo, saiu de de 29 em 2004 para 650 em 2005 e chegou a 768 em setembro passado.

A expectativa do Itaú é que a Taií chegue ao equilíbrio no final de 2007 ou começo de 2008, quando então poderá pensar em novas parcerias, afirmou.

Setubal também considera um desafio futuro a expansão a expansão internacional. Até o final do ano, "no mais tardar em janeiro", o banco espera ter a aprovação das autoridades para a aquisição das operações do BankBoston no Chile e Uruguai.

Mudanças foram feitas nas operações na Argentina, onde as operações de atacado passaram a responder ao Itaú BBA e espera ganhar escala com a expansão das carteira de pessoa física e das pequenas e médias empresas.