Título: Comércio não é agora prioridade dos EUA, diz a presidente do Conselho das Américas
Autor: Landim, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 04/12/2006, Brasil, p. A2

"O comércio simplesmente não é prioridade agora com qualquer país." A afirmação é de Susan Segal, presidente e CEO da Sociedade das Américas e do Conselho das Américas. Ela se refere ao ambiente contrário ao livre comércio que domina o Congresso dos Estados Unidos, especialmente depois que o Partido Democrata ganhou maioria na Câmara e no Senado. A executiva rejeita a tese de que existe uma má-vontade com o Brasil entre os parlamentares americanos e diz que o comércio apenas deixou de ser "uma agenda importante", devido às eleições presidenciais do país em 2008.

É uma mudança importante para os Estados Unidos, que por muito tempo foram os maiores advogados do livre comércio ao redor do mundo. Esse clima dificulta o trabalho de Susan, que está empenhada em aprovar os acordos dos EUA com o Peru e com a Colômbia no Congresso e que trabalhou pelo Acordo de Livre Comércio da América Central (Cafta), que passou na Câmara com um margem de votos bastante apertada.

Susan preside o Conselho das Américas, entidade que reúne companhias de vários setores, incluindo financeiro, energia, transporte, telecomunicações e indústria. Fundado pelo bilionário David Rockefeller em 1965, o conselho funciona como um fórum de diálogo entre investidores multinacionais e líderes políticos da região. "Somos totalmente a favor do livre comércio", disse Susan. "Acreditamos que a abertura dos mercados promove crescimento, o que gera mais empregos", completou.

Ela é uma das porta-vozes do Acordo de Livre Comércio das Américas e lamenta que as negociações estejam paralisadas, porque, na sua avaliação, seria mais fácil aprovar a Alca no Congresso dos Estados Unidos do que pequenos acordos. "Por seu tamanho e magnitude, muitas companhias estariam interessadas", diz. A executiva diz que a entidade quer também ajudar a renovar os benefícios do Sistema Geral de Preferências (SGP). OS EUA ameaçam excluir o Brasil da lista de países beneficiados.

Na semana passada, 30 membros do conselho, incluindo Rockefeller, estiveram no Brasil. Eles se reuniram a portas fechadas com ministros, empresários e economistas - os nomes não são divulgados - para discutir o futuro do país. O grupo decidiu vir ao país neste momento por estar mais próximo o início do segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "Se você observa e coloca em perspectiva, existe hoje um novo Brasil", disse Susan em entrevista ao Valor.

A executiva, que dirigiu o grupo de América Latina do JP Morgan Partners/Chase Capital Partners, ficou impressionada com a pequena volatilidade dos mercados durante a eleição presidencial. "O que vimos foi um enorme fortalecimento das instituições e o quanto a democracia brasileira está madura", disse.

O Conselho das Américas possui hoje 180 membros, 70% dos Estados Unidos e 30% de outros países da região. Os empresários que participam da entidade estão observando com atenção as recentes eleições na América Latina. "Não vejo o mundo hoje dividido entre esquerda e direita, mas entre países que tem boas e más políticas", disse Susan.

Ela elogiou o Brasil, que seguiu "políticas muito boas" durante o primeiro mandato de Lula, referindo-se à disciplina fiscal. E questionou as políticas do presidente da Venezuela, Hugo Chávez. "Existem oportunidades de longo prazo sendo criadas para a população da Venezuela?", indagou.