Título: Pequenos vão à China em busca de parceiros
Autor: Jurgenfeld, Vanessa
Fonte: Valor Econômico, 04/12/2006, Brasil, p. A4

Pequenas e médias empresas estão se preparando para não ficar de fora do movimento em busca de parceiros na China. Fabricantes de pequeno e médio porte de confecções, sapatos, equipamentos de metalurgia e até varejistas de Santa Catarina começaram a visitar empresas e feiras chinesas em busca de produtos já prontos ou matérias-primas mais baratas para reduzir o custo de produção, seguindo uma tendência forte entre as empresas de maior porte, que iniciaram essa busca já em 2004.

"Fui estreitar relacionamentos. Já estávamos importando alguns produtos para teste e agora pretendemos trazer pelo menos dez itens de lá", diz Marcelo Deola, um dos sócios da Picotex, de Gaspar, pequena empresa do setor têxtil no Vale do Itajaí (SC). Ele participou em outubro de uma missão à China, organizada pela Federação das Indústrias de Santa Catarina (Fiesc), com o objetivo de conhecer os fabricantes com quem já vinha mantendo contato por e-mail.

A Picotex, distribuidora de aviamentos de empresas paulistas em Santa Catarina e fabricante de entretelas para camisas, pretende também ser distribuidora de artigos como zíper, elástico e renda chineses. "Praticamente todos os itens lá são mais baratos do que no Brasil. Há casos em que os custos representam um quarto do preço que pagamos hoje, isso sem negociar um preço melhor devido ao alto volume de importação", destaca. Nas contas de Deola, é mais vantajoso conquistar um parceiro chinês do que investir em produção própria, com dispêndio em maquinários, mão-de-obra e adaptação dos custos fixos ao giro de produção.

A busca por contratos com chineses, embora cada vez mais comum no setor têxtil, não fica restrita a ele. A metalúrgica Santa Libera, fabricante da marca Mecril, produtora de eletroferragens, já levou alguns desenhos de produtos para a China para fechar cotações. A empresa, com sede em Forquilhinha, sul de Santa Catarina, vai deixar de fazer um investimento em ampliação do seu parque fabril e trará componentes já pré-acabados da China.

"Os custos que teríamos para ampliar a fábrica seriam sensivelmente maiores", explica Jader Westrup, um dos sócios da empresa, que fatura cerca de R$ 70 milhões por ano. Westrup não revela a sua conta exata de custos, mas explica que pesam contra os investimentos no Brasil o custo financeiro, a necessidade de contratação e a dificuldade de financiamento. "Não vou demitir ninguém devido a essa parceria, mas também não vou ampliar a produção no Brasil", explica ele, que também cita que não está substituindo fornecedores nacionais, neste primeiro momento, mas sim ampliando o leque de fornecedores.

A indústria de Westrup está com sua capacidade quase totalmente tomada e ele vai trazer cerca de um contêiner por semana da China de produtos que vão ganhar acabamento final no Brasil e serão exportados à África. O executivo diz que não tem nenhum constrangimento em não investir no seu país, preferindo fazer com que os chineses fabriquem seu material, com a sua marca - mesmo movimento que muitos americanos e europeus hoje fazem com a indústria brasileira. "Estamos em uma economia global, não temos como evitar isso. Faltam apoios apropriados no Brasil para investimentos", reclama.

De acordo com a Federação das Indústrias de Santa Catarina (Fiesc), que já enviou três missões empresariais para a China, o número de pequenos e médios empresários interessados está crescendo. A maioria das missões é de uma semana a dez dias, com visitas a fábricas e feiras. Entre os setores que mais buscam a China estão têxtil, pele, couro e seus artefatos, eletroeletrônicos, ferramentas, maquinário e equipamentos, pequenos veículos e suas partes e materiais de construção. Em geral, setores exportadores, que com a atual cotação do dólar estão procurando alternativas por intermédio da importação.

No pólo calçadista de São João Batista (SC), empresários estiveram na China há poucos meses, impulsionados justamente pela moeda. Rosenildo Amorim, presidente do sindicato das empresas locais - que produzem 1,2 milhão de pares por mês - diz que estão sendo negociados insumos como fivelas, cadarços e sintético (tecido que imita o couro), mas ainda persiste o impasse da logística. Segundo ele, há ainda uma demora entre o fechamento do contrato e a entrega, o que não viabiliza plenamente o negócio. Ele conta que há preços bons na negociação como, por exemplo, o do metro do sintético, cerca de 20% mais baixo que no Brasil, mas a demora na entrega exige uma organização muito antecipada de capital de giro, que nem todos poderiam ter.

O presidente da Associação das Micro e Pequenas Empresas de Brusque (Ampe), Luiz Carlos Rosin, dono de uma pequena empresa de confecção, a Beach Country, relata dificuldades parecidas. Ele voltou entusiasmado da China e estuda reunir pequenos fabricantes e trazer alguns tecidos como jeans e tecido fino de algodão, usado em camisaria. Mas diz que fez por enquanto uma viagem "investigativa".

A dificuldade para as pequenas, segundo Rosin, é o transporte. Para ficar realmente atrativo, é preciso que as compras na China sejam de grande volume e se feche pelo menos um contêiner por remessa, o que ele considera um volume alto para a produção local.

Pesam favoravelmente, no entanto, outros fatores. Além do benefício de custos reduzidos, ainda mais com o dólar favorável à importação, os pequenos empresários ponderam nessa relação mais estreita com os chineses também o risco menor para os negócios. Os contratos não são de longo prazo, podendo ser encerrados rapidamente caso ocorra, por exemplo, uma mudança na cotação do dólar (com uma desvalorização do real em relação à moeda americana algumas compras são dadas como inviáveis).

Quem não pretende ampliar produção com insumos chineses, encontra na China outras oportunidades. O empresário Ronaldo Luiz Pinho pretende em breve fazer novos investimentos, depois de se inspirar na China. Dono da Gino Pneus, rede com três lojas de pneus e acessórios na Grande Florianópolis, pretende diversificar os negócios. Diz que colheu informações sobre material de construção, motocicletas e material de escritório para em breve realizar investimentos. Ele cita que viu produtos a um quarto do preço do Brasil e tem agora estudado os custos de frete e de adaptação que o mercado brasileiro possa exigir desses importados para dar início ao novo negócio.