Título: Petrobras investe na reutilização de água
Autor: Santos, Chico
Fonte: Valor Econômico, 04/12/2006, Brasil, p. A5

O embrionário mercado brasileiro de reutilização de água industrial, reúso, no jargão setorial, está em alvoroço. É que a Petrobras decidiu entrar nele de cabeça, com o objetivo de reduzir a captação de água para suas unidades de refino e também de diminuir o lançamento de efluentes no meio ambiente. A estatal vai investir até 2009 aproximadamente R$ 350 milhões para alcançar o reúso de 1.800 mil metros cúbicos (1,8 milhão de litros) por hora de água em refinarias e no seu Centro de Pesquisas (Cenpes).

Esse total corresponde a 15,552 milhões de metros cúbicos (15,552 bilhões de litros) de água por ano, segundo a estatal, o equivalente ao consumo de uma cidade de 300 mil habitantes, maior do que o município fluminense de Volta Redonda (cerca de 260 mil habitantes). "A Petrobras é 'benchmarch' (referência), quando ela se movimenta em uma direção, a tendência é de que outras grandes empresas façam o mesmo", avalia Paulo Ceschin, presidente da Geoplan, empresa controlada por um fundo de investimentos americano que atua no mercado brasileiro de reúso de água.

De acordo com um estudo conservador feito pela Geoplan, os mais de 15 bilhões de litros anuais de água que a Petrobras vai economizar por ano com o seu programa representarão apenas 1,44% do mercado potencial de reúso de água no Brasil, estimado em 1,08 bilhão de metros cúbicos (1,08 trilhão de litros) por ano. Como negócio, a empresa avalia que o fornecimento dessa quantidade de água industrial reutilizada movimentaria por ano R$ 4,32 bilhões em tarifas. A Geoplan, que atende a grandes empresas como a própria Petrobras - na Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados (Fafen) -, a Bayer e a Braskem, fatura hoje apenas R$ 30 milhões por ano.

Apesar de grandes empresas estarem crescentemente investindo em programas de reutilização de efluentes, Ceschin calcula que, neste momento, o reúso de água no Brasil ainda é muito baixo em comparação com países como os Estados Unidos, onde a conservação de água graças ao reúso passa de 50% do consumo industrial. Mas já existem números gigantes no Brasil. A Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), por exemplo, que como todo o setor siderúrgico está entre os líderes nessa prática, informou que reutiliza 85% dos 42 metros cúbicos (42 mil litros) por segundo de água que usa no seu processo industrial.

Isso quer dizer que ela deixa de captar do Rio Paraíba do Sul mais de 1 trilhão de litros de água por ano e deixa de lançar uma quantidade próxima de efluentes no rio. A economia de água é maior do que a vazão normal do canal que o governo pretende construir para levar água do Rio São Francisco para o semi-árido setentrional (26 metros cúbicos por segundo). A CSN investiu nos últimos seis anos R$ 100 milhões em tratamento e reúso de água, reduzindo de 7 mil para 3 mil metros cúbicos por segundo o lançamento de efluentes no Rio Paraíba. A captação de água nova está hoje limitada, segundo informou a siderúrgica, a cinco metros cúbicos por segundo.

O Projeto Sistêmico de Reúso de Efluentes no Refino da Petrobras está sendo coordenado pelo Programa Tecnológico do Meio Ambiente do Centro de Pesquisas da estatal. Segundo Vânia Junqueira Santiago, coordenadora do projeto, já está em fase de licitação a obra para a Refinaria do Vale do Paraíba (Revap), em São José dos Campos (SP), que prevê o reúso de 300 metros cúbicos de água por hora, de um uso total de 1.800 metros cúbicos por hora.

A equipe do Centro de Pesquisas da Petrobras selecionou as tecnologias de reaproveitamento de água que serão utilizadas nas refinarias a partir de um conjunto de 14 alternativas desenvolvidas em vários países, principalmente Canadá, Estados Unidos e Japão. Na maioria dos casos, a idéia do projeto é incorporar as tecnologias de reúso nas obras de ampliação. Mesmo assim, o primeiro resultado desse esforço será a eliminação total de lançamento de efluentes no meio ambiente pela refinaria de Capuava (Mauá, SP) a partir do fim deste ano. A refinaria capta água do poluído Rio Tamanduateí, trata, usa e ainda fornece cerca de 300 metros cúbicos por hora à Petroquímica União (PQU).

Além de Capuava e da Revap, o projeto de reúso que está sendo tocado pelo Cenpes vai alcançar, em uma primeira fase, as refinarias do Paraná, de Paulínia, de Betim e de Duque de Caxias. Os projetos já definidos prevêem investimentos de US$ 150 milhões (R$ 320 milhões).

Além disso, o Cenpes está investindo R$ 27,5 milhões em desenvolvimento de tecnologias de reúso, incluindo 22,3 milhões em três unidades-piloto, sendo uma fixa (na Regap) e duas sobre rodas. O Centro de Pesquisas da estatal está investindo também em um projeto de R$ 6 milhões para zerar a compra de água da Cedae, a empresa estadual de água e esgoto do Rio de Janeiro. Com a economia que será feita, o investimento estará pago em 18 meses.