Título: Presidente quer Marta ministra longe da disputa municipal
Autor: Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 04/12/2006, Política, p. A9

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve chamar a ex-prefeita de São Paulo Marta Suplicy para uma conversa no início deste mês de dezembro. Vai perguntar se ela pretende, de fato, ocupar uma pasta na Esplanada, mas avisará que deseja ministros dispostos a ficar até o final do governo - na melhor das hipóteses, desincompatibilizando-se apenas em meados de 2010. Marta teria, então, que abrir mão dos planos de concorrer à prefeitura de São Paulo em 2008. Neste caso, correria para cacifar-se como o principal nome para suceder Lula no Planalto, daqui a quatro anos.

As possibilidades dividem o grupo que apóia a ex-prefeita. Aqueles que defendem a candidatura à Prefeitura de São Paulo em 2008 lembram que ela deixou o cargo com a aprovação em alta. Perdeu, no segundo turno, para o tucano José Serra, que havia sido candidato a presidente dois anos antes (2002) e foi eleito governador do Estado recentemente. Perdeu também por erros de estratégia. "Marta foi cabeça dura. Escolheu uma chapa puro-sangue, com Rui Falcão para vice. Se tivesse fechado acordo com o PMDB paulista, teria sido reeleita".

Seus aliados acrescentam que, durante as caminhadas feitas pelas ruas de São Paulo, tanto na campanha vitoriosa de Lula quanto na derrotada de Aloizio Mercadante (PT-SP) para o governo estadual, Marta sempre foi muito bem recebida pela população. "Ela gostou de ser prefeita e quer dar continuidade ao trabalho que fez", afirmou o deputado eleito por São Paulo, Jilmar Tatto (SP).

Mas a hipótese de migrar para a Esplanada também seduz a ex-prefeita. A aposta mais concreta seria o Ministério das Cidades, hoje nas mãos do PP, mas reivindicado pelo PT. A pasta atrai o partido por dois fatores: tem visibilidade política e tem orçamento (caneta com tinta, na linguagem do poder político federal). Por ela passarão os projetos de saneamento básico dos próximos quatro anos - uma das apostas de Lula para promover o crescimento com inclusão social. Além disso, Marta tem um bom relacionamento com os prefeitos - sua gestão na capital paulista facilitaria a interlocução com os demais administradores municipais.

Com menores chances apareceria o Ministério da Educação. Nesta área, Marta destacou-se pela implantação dos CEUs - Centros Unificados Educacionais - na capital paulista. Pessoas próximas ao governo, contudo, lembram que essa hipótese seria quase uma "zebra". Lula não tem demonstrado disposição em afastar Fernando Haddad, que substituiu Tarso Genro no ministério e ganhou a confiança do presidente, que o chama, juntamente com a equipe do MEC, de "esses meninos".

Marta também não tem pressa para se decidir. Conversou com Lula durante a reunião do Diretório Nacional e aproveitou para tirar uns dias para descansar. Interlocutores de ambos os lados têm trocado confidências nas últimas semanas. Ela sabe que tem cacife para negociar após as eleições deste ano. Derrotada por Mercadante na prévia interna para o governo de São Paulo, Marta deu a volta por cima. "Ela gosta de fazer política, gosta de estabelecer a disputa ideológica", elogia Tatto. "Três petistas ganharam as eleições deste ano: Lula, Jaques Wagner e Marta Suplicy", completou outro parlamentar da bancada federal.

O ocaso de Mercadante e do diretório petista em São Paulo por causa do dossiê Vedoin levou-a a assumir a coordenação da campanha paulista de Lula no segundo turno. Não virou a votação no Estado, mas ajudou a derrubar drasticamente a diferença do presidente eleito para o tucano Geraldo Alckmin - no primeiro turno, fora de 17 pontos percentuais; no segundo, ficou próxima abaixo de cinco pontos.

Marta não dedicou-se apenas à vitória de Lula. Ajudou a eleger diretamente cinco deputados federais: Jilmar Tatto, José Mentor, Ricardo Zarattini, Cândido Vacarezza, Devanir Ribeiro. E ainda pediu votos para Antonio Palocci na capital paulista. Empenhou-se pessoalmente na eleição do deputado estadual mais votado no Estado - Rui Falcão. "O PT paulista é uma estrada pavimentada, com diversos cadáveres e agonizantes espalhados pelo caminho. Só um cacique ainda mantém força: Marta Suplicy", confirma um petista próximo do presidente.

Tatto considera que o caminho natural seria ministério-prefeitura-governo estadual ou Presidência em 2010. Marta pensa com carinho em abrir mão da prefeitura se sentir que, no ministério, pode realmente pavimentar uma estrada para a sucessão de Lula. O PT não tem, pelo menos até o momento, nenhum nome forte para a vaga. Articulada, a ex-prefeita já liberou seus afilhados políticos para operarem em Brasília. Tatto participa ativamente dos debates sobre a sucessão na Câmara. Vacarezza liga para petistas experientes da bancada para agendar encontros.

O apoio a Palocci lhe renderá um aliado. José Dirceu, que quer a anistia, também fechou um acordo tático com o grupo martista. O que seus aliados descartam, veementemente, é a possibilidade de ela concorrer à uma vaga na Câmara ou no Senado - Marta já foi deputada federal na legislatura 1995-1999. "O perfil dela é Executivo. Não passa pela minha cabeça a imagem dela no Congresso novamente", declara um dos deputados federais "eleitos" por Marta.