Título: Petróleo ajuda a conter inflação
Autor: Rockmann, Roberto
Fonte: Valor Econômico, 04/12/2006, Caderno Especial, p. F2

Depois de bater recordes sucessivos de cotação, o preço do barril de petróleo entrou em rota descendente a partir de setembro, quando sua cotação estabilizou-se abaixo dos US$ 60 o barril. O preço ainda é alto - há três anos ele estava na casa dos US$ 30 -, mas analistas prevêem que a commodity não deverá sofrer grandes elevações no próximo ano. Confirmado o cenário, seria uma boa notícia para a inflação, já que, se o preço se mantiver no início de 2007 na casa dos US$ 50 o barril, uma redução dos preços da gasolina e do diesel poderá ser efetuada pelo governo. Desde setembro de 2005, a gasolina não é reajustada no Brasil.

"A tendência é de que tenhamos um preço em 2007 mais baixo que o verificado nesse ano", afirma o sócio-diretor do Centro Brasileiro de Infra-Estrutura (Cbie), Adriano Pires. Na média, ele estima que a cotação média em 2007 fique em US$ 55, ante os US$ 64 previstos para este ano. Sem grandes alterações políticas no Oriente Médio, taxas de crescimento mais baixas em boa parte das economias industrializadas por conta da alta de juros, o aumento da produção por parte da Rússia, o aumento das reservas americanas no Golfo do México e o movimento de grandes consumidores de petróleo rumo às energias alternativas seriam as principais razões para a queda em 2007.

Esse cenário não poderá mudar caso a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) decida por cortes de produção para elevar os preços e, conseqüentemente, suas receitas? "Esse não é um cenário descartado, mas, se a Opep cortar a produção e mantiver o preço em alta, o movimento de Estados Unidos, Japão e Europa rumo aos biocombustíveis e à opção nuclear seria ainda mais acelerado", afirma Pires.

Previsões de um inverno menos rigoroso no hemisfério norte e a ausência de desastres naturais neste fim de ano, como o furacão Katrina, que causou prejuízos aos estoques americanos de petróleo no segundo semestre de 2005, também contribuem para as estimativas de preços mais baixos em 2007. "Se o preço do petróleo estiver na casa dos US$ 50 na época do carnaval, é possível que a Petrobras reduza os preços dos derivados", analisa Pires, que afirma que hoje as cotações dos derivados estão mais altas que as verificadas no exterior. A Tendências Consultoria, que prevê inflação de 4,1% em 2007, estima preços estáveis em sua projeção para a gasolina no próximo ano.

"O petróleo deixou de ser uma preocupação e hoje, com a auto-suficiência, tornou-se uma importante arma de defesa de nossa economia", afirma o economista da RC Consultores Fabio Silveira. O aumento da produção interna de petróleo, hoje perto de 1,9 milhão de barris diários, fará com que a commodity tenha uma posição significativa na pauta de exportações brasileiras.