Título: China quer evitar o pouso forçado
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Fonte: Valor Econômico, 04/12/2006, Caderno Especial, p. F2

A economia da China responde muito lentamente às medidas para reduzir o seu crescimento, mas o país estaria no caminho certo para evitar um "hard landing" (pouso forçado), isto é, uma desaceleração brusca para que a oferta e a demanda se equilibrem. Os analistas consideram "estimulante" o ritmo menor de crescimento do PIB entre julho e setembro, de 10,4%, em relação a 11,3% no segundo trimestre, quando atingiu o mais alto nível em onze anos. Nos nove primeiros meses deste ano, a China cresceu impressionantes 10,7%, elevando o PIB a US$ 1,79 bilhão.

A previsão é que o país feche 2006 com uma expansão entre 9,5% e 10%, diz Rodrigo Tavares Maciel, secretário executivo do Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC). Esse patamar é bastante superior aos 8% estabelecidos pelo governo chinês como meta neste ano e 7,5% nos próximos anos. "Ninguém enxerga redução drástica de crescimento do PIB chinês. A China vai continuar se expandindo solidamente nos próximos dez anos", prevê Maciel. "Por enquanto, o crescimento não terá a redução desejada. Os analistas têm criticado o pacote de medidas e dizem que teriam de ser mais drásticas", comenta.

Por que e como o governo chinês pretende reduzir o ritmo de expansão? Os objetivos são evitar o excesso de investimentos e o excedente de produção. A China também quer reorganizar os setores de sua economia para obter maior capacidade de competir e evitar que os investimentos fiquem descontrolados, diz Maciel. Na siderurgia, por exemplo, há excesso de capacidade. O governo central baixou uma série de medidas monetárias e administrativas voltadas à contenção dos investimentos fixos em setores superaquecidos, como o siderúrgico, o automobilístico e o imobiliário.

As medidas incluem aumento do depósito compulsório pelos bancos e da taxa anual de juros para empréstimos. A China também elevou a alíquota de alguns produtos exportados.

Os investimentos são o principal propulsor da expansão econômica chinesa. E os empréstimos bancários são o motor dos investimentos. Com muito dinheiro, os bancos emprestam a juros baixos. Por isso, o governo chinês já fez dois aumentos nos juros - de 0,27 ponto percentual cada - em outubro de 2004 (a primeira alta em nove anos) e abril de 2006.

O presidente da Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F), Manoel Félix Cintra Neto, lembra que há três anos as autoridades chinesas vêm tentando frear o crescimento do país. "Não conseguem. Na verdade, eles não têm interesse genuíno em segurar o ritmo de expansão. É mais um compromisso com os americanos", interpreta. Nos EUA, o "fator China" tem gerado tensões por conta do enorme déficit no intercâmbio comercial, de US$ 200 bilhões em 2005. (M.H.T.)