Título: Espanhóis vão gastar R$ 950 mi em 1,6 mil quilômetros de linha
Autor: Capela, Maurício
Fonte: Valor Econômico, 04/12/2006, Empresas, p. B6

Ainda não completou uma década a época em que as companhias espanholas compraram tudo o que viram pela frente no Brasil. Em tempos de privatização no país, empresas de telefonia, de energia, bancos, enfim, viraram alvos instantâneos dos grupos espanhóis em disputas, muitas vezes, acirradas.

Agora, a bola da vez no Brasil é o setor de linhas de transmissão de energia. Com regras claras e remuneração fixa, os leilões desse tipo de ativo têm atraído cada vez mais a atenção de grupos não só da Espanha, mas também nacionais e de outros países.

No último leilão, realizado em novembro, a Espanha foi o grande destaque. Primeiro, porque Elecnor e Cobra compraram 74,1% dos 2,26 mil quilômetros de linhas de transmissão disponíveis no pregão e, depois, porque vão desembolsar R$ 950 milhões para colocar os empreendimentos de pé em 18 meses, a partir da assinatura do contrato. A expectativa é que tudo esteja pronto até 2008.

Mas não é apenas isso que as fez especiais neste pregão. A Elecnor, por exemplo, arrematou o lote mais importante do leilão, o A, que interliga os estados do Acre, Rondônia e Mato Grosso. Só para se ter uma idéia do que isso significa, esse trecho sozinho será responsável por uma economia de US$ 500 milhões na Conta de Consumo de Combustíveis Fósseis (CCC), que é de US$ 2,5 bilhões por ano. A CCC é uma espécie de taxa que está embutida na conta de energia de cada brasileiro e que é usada para viabilizar a chegada do insumo nas regiões isoladas do Brasil, que estão localizadas principalmente no Norte.

Já a Cobra comprou os direitos de construir as linhas do blocos B e C, sendo que o B foi o lote mais disputado do pregão, com mais de 100 lances. O segundo mais disputado foi o A, vencido pela sua compatriota.

O pregão organizado pelo governo federal possuía sete lotes. Além dos três espanhóis, os demais foram adquiridos pela colombiana ISA, que ficou com um, pela brasileira Alusa, que ficou com dois; e pela também nacional Chesf, que ficou com outra.

"Caso o Brasil continue com solidez na economia, com segurança jurídica, como vimos nos últimos cinco anos, não há porque não continuarmos investido por aqui. E a idéia não é só aplicar na construção de linhas de transmissão, também poderemos construir usinas para gerar energia, ferrovias e muitos outros negócios", conta Ricardo Martini, diretor de exportação da Cobra no Brasil. "Nossos aportes futuros no país dependem das condições dos projetos, mas também não descartamos ingressar na geração de energia por meio de fontes alternativas", afirma Jose Castellanos, diretor de investimento externo da Elecnor no país.

A Elecnor, que fatura ?780 milhões (R$ 2,3 milhões) no mundo e R$ 400 milhões no Brasil, já colocou um pé na geração de energia alternativa. A empresa inaugura até o fim deste ano o último módulo da usina eólica de Osório (RS), cujo investimento é de R$ 700 milhões, sendo R$ 600 milhões só do grupo espanhol. A usina terá capacidade de gerar 150 megawatts (MW), sendo que hoje já gera 100 MW.

Nos últimos cinco anos, a Elecnor investiu R$ 900 milhões, enquanto que a Cobra aplicou ? 300 milhões. A Cobra fatura ? 2,2 bilhões no mundo e R$ 132 milhões no Brasil.

A julgar pelo apetite do último leilão, o investimento médio anual dos espanhóis deverá aumentar em breve. Isso, porque somente a Elecnor precisará aplicar R$ 400 milhões para construir os 949 quilômetros do lote A. "Penso que vamos inaugurá-lo em setembro de 2008", diz Castellanos.

O diretor de exportação da Cobra prevê gastos de R$ 300 milhões para erguer os 308 quilômetros do bloco B, que liga Jaguara (MG), Ribeirão Preto (SP) e Poços de Caldas (MG). Já no bloco C, que tem 412 quilômetros e conecta São Simão (GO), Maribondo (MG) e Ribeirão Preto (SP), a expectativa é de R$ 250 milhões de investimento.

Para o leilão que deve ocorrer este mês, as empresas não revelam suas estratégias. O certo, porém, é que os fortes deságios já preocupam. O último pregão teve um deságio médio de 51,13%.