Título: O abacaxi previdenciário
Autor: Nunes, Ivan
Fonte: Correio Braziliense, 04/01/2011, Politica, p. 7

NOVO GOVERNO Garibaldi Alves Filho assume o Ministério da Previdência Social e classifica a indicação como o maior desafio de sua carreira política. Titular da pasta admite não ter experiência na área e descarta, pelo menos por ora, reformas no setor

O novo ministro da Previdência Social, Garibaldi Alves Filho, assumiu a pasta ontem admitindo que não tinha currículo nem a pretensão de ocupar o cargo, mas acabou convencido pelos apelos de seu partido, o PMDB. ¿Me senti intimidado ao ser escolhido para o ministério¿, admitiu o senador potiguar. Em um auditório lotado de quadros peemedebistas, Garibaldi colocou o posto como o maior desafio de sua carreira política e elogiou o trabalho do antecessor, Carlos Eduardo Gabas, que permanecerá no ministério como secretário executivo. Ao assumir a pasta, o ministro disse que não defenderá uma reforma imediata no setor, mas adiantou que as discussões sobre o tema devem ser iniciadas e aprofundadas de forma urgente.

Com deficit histórico acumulado, sistema inchado e rede de atendimento do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) insuficientes, a Previdência caiu na conta do PMDB a contragosto do partido, que preferia Cidades ou Integração Nacional. O próprio Garibaldi admitiu que não tinha experiência exigida para o posto. ¿Não tenho o currículo que talvez ela (Dilma) desejasse para o cargo. Mas hoje, no discurso do Edison Lobão, ele disse que também não tinha currículo quando assumiu Minas e Energia pela primeira vez e terminou aplaudido. Tenho a mesma esperança¿, disse o ministro.

No discurso de posse, Garibaldi elencou várias prioridades do setor. As principais diziam respeito à implantação de melhorias no atendimento prestado pelo INSS e ao reforço no combate a fraudes. Ele ainda pediu esforço conjunto de outras pastas da Esplanada para incluir a população hoje marginalizada no mercado de trabalho no regime do INSS, por meio de incentivos para a diminuição do trabalho autônomo e o reforço às pequenas e microempresas. ¿Devemos estreitar o controle e as medidas de combate à sonegação e às fraudes. Em outra frente, precisamos reforçar e consolidar os programas de resgate dos créditos do INSS nas empresas e nas instituições devedoras¿, afirmou Garibaldi.

Única reforma aprovada pelo governo Lula (2003-2010), uma nova alteração no sistema previdenciário foi descartada pelo novo ministro, ao menos por ora. Garibaldi disse que pretende iniciar uma discussão profunda sobre o tema, para que uma nova reforma seja ampla. ¿Reformar a Previdência, de maneira profunda e que seja capaz de harmonizar os interesses de todos os atores nela envolvidos, é missão que não se planeja nem se executa de maneira abrupta¿, defendeu. Durante o discurso, Garibaldi se emocionou ao se lembrar da primeira eleição que participou ao lado do primo, o deputado federal Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), há quase 50 anos. Com a voz embargada, o ministro disse que os dois tinham uma relação de ¿irmandade¿.

Assuntos estratégicos A última cerimônia de posse dos 37 ministros escolhidos por Dilma Rousseff está marcada para hoje, quando Moreira Franco assumirá a Secretaria de Assuntos Estratégicos.

Reajuste No dia da posse de Garibaldi, o governo federal editou a medida provisória (MP) que reajusta em 6,41% os benefícios pagos pelo INSS a partir do último 1° de janeiro. De acordo com o texto da MP, os benefícios majorados por força da elevação do salário mínimo para R$ 540 terão o excedente descontado a partir da aplicação do reajuste. Com o aumento, o menor benefício pago pela previdência não poderá ser inferior ao valor do mínimo, nem superior a R$ 3.689,66.

Governadores na posse de Cristino » Um grande número de políticos marcou presença na posse do ex-prefeito de Sobral (CE) José Leônidas Cristino, que assumiu ontem a Secretaria Especial de Portos. Engenheiro civil especializado em estradas, Leônidas substitui Pedro Brito, ocupando a cota do PSB dentro do governo. Questionado se estava satisfeito com a nomeação, o governador do Ceará, Cid Gomes (PSB), disse que sim, afirmando ainda que o partido nunca esteve em pé de guerra para ocupar espaços neste governo. ¿Nos sentimos parte do projeto de Dilma e, independentemente do cargo, iríamos apoiá-la.¿ Cid estava na cerimônia acompanhado do governador de Pernambuco e presidente do PSB, Eduardo Campos. Na solenidade de posse, Cristino prometeu empreendimentos para aumentar as exportações e visando a Copa do Mundo de 2014. (Edson Luiz)