Título: Para pesquisador, país levará 25 anos para reduzir desigualdade ao nível da Tunísia
Autor: Leo, Sergio
Fonte: Valor Econômico, 01/12/2006, Brasil, p. A2

No atual ritmo de redução da desigualdade de renda no Brasil, o país levará 25 anos para atingir o mesmo nível dos outros países em desenvolvimento, alertou o pesquisador Ricardo Paes de Barros, da diretoria de Estudos Macroeconômicos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). "Levaremos 25 anos para chegar à situação da Tunísia; se cair a velocidade da queda na desigualdade, levará muito mais tempo", afirmou, ao mostrar os resultados da política social do governo, em seminário promovido pelo Ipea.

Paes de Barros comentou também as dificuldades políticas para manter o ritmo de queda na desigualdade. "O quanto famílias ricas e brancas vão suportar ver uma evolução lenta de sua situação, enquanto as pobres e negras estarão decolando?" perguntou, ao mostrar a preocupação com a viabilidade política de continuar financiando as necessárias políticas públicas de redução da desigualdade. "São Paulo vai crescer lentamente, comparado com o Piauí. As pessoas mais ricas vão ver o governo gastando muito dinheiro com a população que terá melhoria mais rápida de vida", afirmou o pesquisador.

Indicadores do IBGE citados por Paes de Barros apontam uma redução, em 2004, no ritmo de queda da desigualdade no país. O índice de Gini, que é maior quanto maior é a concentração de renda, caiu apenas 0,6% entre 2005, o pior desempenho da década, e os dados da Pesquisa Mensal de Emprego, do IBGE, restritos a grandes cidades, revelam que a concentração de renda teria voltado a aumentar. "Existe evidência de que caiu o ritmo de redução da desigualdade", confirma o economista.

Esses resultados podem ser apenas distorções estatísticas, já que o IBGE, em 2004, refinou sua pesquisa de domicílios (o que pode ter inflado artificialmente o tamanho da queda na disparidade de renda no país) e a PME se restringe a capitais, enquanto o maior crescimento na renda se deu fora dos maiores centros urbanos. Mas, segundo admite Paes de Barros, ainda não há uma explicação para o fenômeno, que só ficará mais claro na próxima pesquisa em domicílios, a ser divulgada no fim do próximo ano.

"A continuidade (dos programas de transferência de renda aos mais pobres) é absolutamente importante", defendeu, enfático, o pesquisador, ao criticar as sugestões de redução ou eliminação dos chamados programas assistenciais.

Ele ilustrou o argumento com gráficos, como o que demonstrou um aumento na renda per capita de 8% para os 10% mais pobres na população brasileira, entre 2001 e 2005 - período em que a média brasileira de crescimento da renda per capita foi de 0,9% e a dos 50% mais pobres, apenas 3,4%. "Nesse período, para os 10% mais ricos, o Brasil esteve estagnado, enquanto os 10% mais pobres pareciam estar na China, com crescimento similar da renda", afirmou.

Paes de Barros levou dados para defender a idéia de que os sucessivos aumentos no salário mínimo não têm o efeito desejado na redução da disparidade de renda no país - o que é alcançado de forma mais eficaz, segundo o especialista, com os programas diretos de transferência de renda aos mais pobres.

Segundo uma simulação apresentada pelo economista, um aumento de 10% no salário mínimo levaria a um gasto adicional, no setor público, de R$ 7,4 bilhões e um aumento, na renda per capita, de 3% para os 20% mais pobres na população. A mesma quantia, aplicada em programas como o bolsa-família, elevariam essa renda em 11%. "Não estou defendendo que se expanda o Bolsa-Família, mas que se explore mais o cadastro único dos beneficiados, com programas de atenção prioritária aos mais pobres", explicou Paes de Barros.