Título: Demanda por máquinas e em construção sobe 20% em três anos
Autor: Durão, Vera Saavedra
Fonte: Valor Econômico, 01/12/2006, Brasil, p. A3

O desempenho do investimento foi a grande notícia do resultado do Produto Interno Bruto (PIB), mostrando crescimento expressivo da construção civil e do consumo de máquinas e equipamentos. No terceiro trimestre, a chamada formação bruta de capital fixo (FBCF) avançou 2,5% em relação ao trimestre anterior, na série com ajuste sazonal, uma recuperação significativa da queda de 0,2% registrada entre abril e junho. Na comparação com o terceiro trimestre de 2005, a alta foi de 6,3%.

Segundo analistas, o investimento deve fechar o ano com crescimento na casa dos 6% - o mesmo percentual acumulado de janeiro a setembro. Há quem aposte até em 7%. Este será o terceiro ano de expansão consecutiva da FBCF, nota a economista Mérida Herasme Medina, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Em 2004, o investimento cresceu a 10,9% ; em 2005, avançou 1,6%. No triênio serão quase 20% para um PIB acumulado perto de 10%.

Com o resultado do PIB , fica claro que está em curso o aumento da capacidade produtiva do país, como diz o economista Guilherme Maia, da Tendências Consultoria Integrada. Isso permite acelerar o crescimento sem pressões inflacionárias relevantes, completa.

A economista Débora Nogueira, da Rosenberg & Associados, chama a atenção para o fato de que a expansão da FBCF não se deveu apenas à construção civil -com avanço de 5,5% no terceiro trimestre em relação ao mesmo período do ano passado. O consumo aparente de máquinas e equipamentos (a soma de produção e importação, excluindo-se as exportações) aumentou 9% entre julho e setembro na comparação com igual intervalo de 2005, nota ela.

Para Mérida, o resultado do PIB "indica um fôlego no investimento, tanto do lado da construção civil, quanto das máquinas". Para a economista, mesmo que a construção civil esteja sendo impulsionada por construção residencial, isto é importante, e vai pesar no médio prazo, já que o déficit habitacional do país é enorme. "Para suprir este déficit a construção tem espaço para crescer, mas por enquanto não apareceu o movimento forte na infra-estrutura", alerta. A seu ver, só com grandes obras de infra-estrutura como portos, hidrelétricas, estradas, será possível empurrar para cima a taxa de investimento.

O desempenho acumulado até setembro é bastante positivo: nas contas de Maia, a construção cresce 5% e o consumo aparente de máquinas e equipamentos, 13%. Para ele, a FBCF deve fechar o ano com expansão de 7%. Com isso, a taxa de investimento como proporção do PIB deve ficar em 20,7% em 2006 - no ano passado, ficou em 19,9%. No terceiro trimestre, atingiu 20,4%, segundo a Rosenberg.

Para Maia, o cenário formado por juros em queda, inflação baixa e cenário externo tranqüilo aumenta a previsibilidade na economia, o que deixa os empresários mais confortáveis para elevar investimentos.

No trimestre, o consumo aparente de máquinas e equipamentos cresceu 8,3%, dos quais apenas 2,7% foram produção nacional. As importações destes bens cresceram entre julho e setembro, 22,3%. "Existe uma vantagem de preço e os empresários estão aproveitando o câmbio apreciado. Em termos de investimento, isto é positivo, mas de fato o que está pesando é o que vem de fora", diz Mérida.

Bráulio Borges, da LCA Consultores, atribui boa parte da expansão da construção ao investimento público, lembrando que no final do ano passado o governo reservou R$ 12 bilhões para investir em 2006, ano eleitoral.

Sérgio Vale, da MB Associados, tem outra análise. Para o economista, é preciso ficar atento a esta influência da "onda" de obras residenciais na construção civil. Para ele, isto não é investimento, é consumo e, portanto, não se sustenta. Coerente com este raciocínio de Vale, a MB está trabalhando com um crescimento de 4,3% para o investimento em 2007. Maia projeta 5% , um número ainda robusto, mas menor que o de 2006 devido à perspectiva de crescimento menor das importações de bens de capital.

O economista-chefe do HSBC, Alexandre Bassoli, diz que o crescimento expressivo do investimento neste ano é razoável, mas lembra que taxa de investimento ainda é baixa, insuficiente para garantir o crescimento sustentado de 5%, como quer o governo. Para ele, isso requer uma taxa na casa de 25% do PIB, o que está distante.