Título: Investimento "salva" o PIB no trimestre
Autor: Durão, Vera Saavedra
Fonte: Valor Econômico, 01/12/2006, Brasil, p. A3

O resultado do Produto Interno Bruto (PIB) do terceiro trimestre do ano foi fraco, como esperado. A economia, entre julho e setembro, cresceu a uma taxa de 0,5% na comparação com o segundo trimestre, que havia expandido também modestos 0,4% em relação ao início do ano, segundo dados divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Nas outras bases de comparação, as taxas foram de 3,2% na comparação com o mesmo período do ano passado, 2,5% no acumulado do ano e 2,3% na taxa anualizada.

Apesar de modesto, o resultado do terceiro trimestre teve dois destaques: o consumo das famílias cresceu pelo 13º trimestre consecutivo e a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) - que mede o investimento em máquinas e na construção civil - cresceu expressivos 2,5% em relação ao segundo trimestre e 6,3% na comparação com igual período de 2005.

Ao avaliar os números divulgados, Roberto Luís Olinto Ramos, coordenador das Contas Nacionais do IBGE, disse que eles confirmaram as expectativas já estabelecidas. "Estamos com uma taxa de crescimento no acumulado do ano de 2,5%, destacando o fato que a Formação Bruta de Capital Fixo teve um impacto grande da importação de bens de capital e da construção civil, com desempenho acima da média", destacou. "Também a agropecuária apresentou excelente resultado, acima da média."

O consumo das famílias acumula um crescimento de 3,6% nos últimos quatro trimestres, resultado impulsionado pelo aumento da massa salarial (6,2%) e pelo crescimento nominal de 29% no saldo de operações de crédito para pessoas físicas, destacou o IBGE. Em boa parte, esse consumo foi abastecido por produtos importados.

Pelo terceiro trimestre consecutivo as importações superaram as exportações - ou seja, por todo o ano de 2006. Este fato não ocorria desde 2003. As exportações cresceram 8,6% na comparação com o segundo trimestre e 7,5%, em relação ao mesmo período do ano passado, enquanto as importações tiveram alta de 20% em relação ao terceiro trimestre de 2005. Na pauta de importações se destacaram os bens de capital para os setores da indústria automotiva, de mineração e siderurgia, material elétrico e equipamentos eletrônicos.

Na análise de Ramos, o fenômeno é conseqüência do câmbio apreciado, que estimula as compras externas. "Esta política (cambial) facilita bastante as importações. Enquanto tivermos uma apreciação do real, teremos produtos importados baratos no mercado. É importante chamar a atenção para as exportações, que apesar da apreciação (cambial), mantêm uma taxa de crescimento expressiva."

O aumento das importações é benéfico para os investimentos, mas por outro lado gera uma contribuição negativa do setor externo para o PIB. No terceiro trimestre, essa contribuição foi negativa em 1,2 ponto percentual e provocou elevação do volume dos impostos sobre produtos, que subiram 4,1% no período computado.

Do lado da oferta, o que chamou a atenção no desempenho fraco da economia entre julho e setembro, foi a recuperação da agropecuária, que cresceu 1,1% em relação ao segundo trimestre, percentual acima do da indústria, de 0,6%, superando também o setor de serviços, que cresceu fracos 0,4%.

Na comparação com o mesmo período do ano passado, a agropecuária teve a maior taxa de crescimento, de 7,8%, impulsionada pelas safras de café (22%) e de cana-de-açúcar (8%). A pecuária também ajudou . Na indústria, nesta base de comparação, teve peso a construção civil e a indústria extrativa mineral, que avançou 3,6%, com a produção de minério de ferro aumentando 9,5% e a extração de petróleo e gás, 2,9%.

No setor de serviços, na mesma base de comparação, o crescimento foi de 2,2%. A maior expansão aconteceu no comércio (3,4%). O setor de comunicações teve queda de 0,7%, explicada pelo declínio da telefonia fixa no período analisado.