Título: Governo esquece 2006 e planeja 2007
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Fonte: Valor Econômico, 01/12/2006, Brasil, p. A4

O governo parece já ter admitido que o crescimento do PIB neste ano não passará dos 3% e que o importante é criar condições para que ele seja maior no próximo ano, a julgar pelas declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de alguns de seus ministros.

Lula, antes de embarcar de volta ao Brasil, depois de participar da Cúpula África-América do Sul, em Abuja, capital da Nigéria, procurou minimizar o fraco crescimento do PIB do terceiro trimestre do ano, divulgado ontem pelo IBGE. "Não estou mais pensando em 2006. Estou pensando em 2007, 2008, 2009, 2010", afirmou, para arrematar: "Estamos tomando todas as medidas para que o Brasil tenha um crescimento mais vigoroso."

Na mesma linha seguiu o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan, que afirmou ontem que, com apenas um mês para o fim do ano, a expansão da economia brasileira em 2006 já está definida e que o importante agora é não permitir a contaminação do próximo ano. "O nosso objetivo é fazer com que a velocidade do crescimento em 2007 comece o primeiro trimestre com aceleração. Não podemos deixar que a média deste ano contamine o ano que vem", disse.

Furlan afirmou, no entanto, que o próximo ano conta com melhores perspectivas agrícolas e com as medidas de estímulo à produção e ao investimento que estão sendo estudadas pelo governo. "Queremos entrar no início do ano com tração e velocidade", afirmou.

Seu colega do Planejamento, Paulo Bernardo, admitiu que crescimento do PIB no terceiro trimestre foi modesto, mas manteve a previsão de crescimento para o ano em 3,2%. "De fato, todos nós gostaríamos que tivesse sido um resultado maior, mas isso já aconteceu. Nós vamos discutir o que vai acontecer", disse.

Segundo Bernardo, os dados do quarto trimestre indicam que o crescimento será maior nos últimos meses do ano. Ele destacou ainda que, pelo lado da demanda, o PIB teve um bom desempenho. Como exemplo, Bernardo citou o crescimento no consumo das famílias, de 4%. "Temos agora que resolver o problema da oferta", acrescentou.

Já o ministro da Fazenda, Guido Mantega, ao comentar os número do PIB trimestral ponderou que a agricultura está em "forte recuperação" e a melhor notícia foram os 2,5% apurados pelo IBGE para o aumento do investimento. "Se o passado e o presente deixam um pouco a desejar em termos de crescimento, estamos no caminho certo do aumento do investimento e nos preparando para um crescimento maior no futuro", afirmou.

A última projeção do PIB preparada pelos ministérios da Fazenda e do Planejamento (3,2 % em 2006) vai depender, segundo Mantega, do último trimestre. "Tenho informações seguras de que a economia está bem no quarto trimestre. Há indicação de aquecimento com o ano fechando com um trimestre robusto, iniciando 2007 com um patamar de crescimento melhor", disse.

O secretário do Tesouro, Carlos Kawall, evitou arriscar um palpite para 2007, mas disse que o crescimento depende do aumento dos investimentos públicos e privados, o que implica controle na trajetória das despesas correntes.

Neste ano, segundo a análise de Kawall, o crescimento "moderado" do PIB foi condicionado a uma trajetória vinda de um período de crise no início do mandato do presidente Lula, com credibilidade e confiança abaladas e ainda com inflação elevada.

O Brasil, segundo essa visão, ainda está vivendo um ciclo de redução dos juros que deve se completar nos próximos anos. Além disso, o país tem de avançar no debate econômico e fiscal. Isso envolve abrir espaço para mais investimentos públicos e privados. "Não acredito que o crescimento virá apenas com a queda dos juros", comentou.

Na sua análise, o país tem um ambiente de redução dos juros no longo prazo. As taxas longas têm caído substancialmente nos últimos meses e isso favorece o financiamento do consumo. No ano que vem, Kawall acredita que as condições serão favoráveis ao investimento. (Arnaldo Galvão e Alex Ribeiro, de Brasília, com agências noticiosas)