Título: Cúpula do PMDB aprova apoio formal ao governo no 2º mandato
Autor: Ulhôa, Raquel e Jayme, Thiago Vitale
Fonte: Valor Econômico, 01/12/2006, Política, p. A8

Com apenas dois votos contra e uma abstenção, o conselho nacional do PMDB aprovou ontem a participação institucional do partido no governo de coalizão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no segundo mandato. A decisão foi oficializada sob a condução de uma mesa eclética, com governistas e ex-oposicionistas juntos, refletindo aparente união. Mas as divergências marcaram discursos e entrevistas.

O presidente do partido, deputado Michel Temer (SP), ex-integrante da ala oposicionista, defendeu a participação no governo, mas deixou no ar uma ameaça. "Nosso entendimento subsiste em cima dos pontos programáticos. Se eles não forem cumpridos, volto a consultar o partido sobre a permanência no governo", disse, referindo-se aos pontos da agenda mínima proposta por Lula. São eles: reformas política e tributária, crescimento mínimo de 5% nos próximos quatro anos, evolução das despesas correntes inferior ao crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), consolidação das políticas de transferência de renda, reexame das dificuldades fiscais dos Estados e criação de um conselho político composto pelos partidos da coalizão.

O PMDB sela o apoio a Lula sem saber qual será seu espaço no futuro governo e em meio à desconfiança entre as bancadas da Câmara e do Senado, cada uma trabalhando para ter a presidência da respectiva Casa. No Senado, o presidente Renan Calheiros (AL) corre o risco de ter que disputar com um candidato de oposição. A bancada da Câmara se reúne na próxima quarta-feira para anunciar que reivindica a vaga. Mas não será anunciado o nome. O gesto servirá para marcar posição. A intenção é negociar uma candidatura de consenso da base governista. O PMDB aguarda um gesto claro do presidente Lula para definir a disputa.

O ex-governador Jarbas Vasconcelos, de Pernambuco, que votou contra a adesão ao governo e foi seguido pelo presidente do diretório pemedebista do seu Estado, Marcus Cunha, previu que a unidade do partido vai durar pouco. "Essa coesão não dura um semestre. Daqui a pouco, começam as divergências. Grande parte (do partido) está em busca de espaço. E o espaço não vai para todos. Alguns vão se frustrar, se decepcionar", afirmou.

Jarbas e o ex-governador Joaquim Roriz (DF) lideram um grupo de seis senadores da próxima legislatura que se declaram de oposição. Roriz participou da reunião de ontem, mas não votou por não integrar o conselho. "Sou contra a adesão e a indicação de cargos. Será que o governo vai cumprir o prometido? Temos de fazer o que é bom para o país em termos de voto na Câmara e no Senado, mas sem participar do Executivo. Se não fizermos isso, estaremos comprometidos e, se o governo fracassar, estaremos comprometidos com ele", disse Roriz.

O senador Pedro Simon (RS), em discurso, anunciou que terá posição de "independência" em relação ao governo. Defendeu uma "reforma ética e moral" do governo e considerou o primeiro mandato de Lula "muito ruim". E disse: "Se essa reunião for de mentirinha e voltarmos àquela história de cargo pra ti, cargo pra ti, não vamos salvar governo nenhum. A declaração de intenções (com as propostas a serem apoiadas pelo PMDB) é muito bonita, mas precisamos falar de coisas concretas, de aprovar as reformas necessárias".

O senador José Sarney (AP) fez o discurso mais forte. Disse que a participação em um governo de coalizão não significa "submissão" e "subserviência". "Coalizão significa governo conjunto. Em nenhum momento o PMDB aceitou ser caudatário do PT ou de qualquer partido", afirmou. Governista de primeira hora, Sarney defendeu que o partido eleja uma comissão executiva "representativa dos grandes nomes do partido, sem querer saber de que lado ele está, ou de que lado não está, mas que represente efetivamente o partido".

Disse que nunca sairá do PMDB, por ter sido ex-presidente da República pela legenda. "Tenho serviços prestados a esse partido", afirmou, citando pontos que considerou positivos de seu governo, como o início dos programas sociais, a correção mensal dos salários e um crescimento do país de 5% ao mês. Sarney misturou elogios a Lula com farpas ao PT. "Nós estamos fazendo uma coalizão com o presidente da República. Não estamos fazendo coalizão com o PT. Ele é o árbitro, o avalizador", disse.

A expectativa de ampliação do espaço do partido no governo esteve presente nos discursos. "Vamos ajudar. Nós temos quadros, homens experientes, vividos, competentes", disse Sarney. "Podem (os cargos) ser uma conseqüência dessa agenda que montamos para o país. A indicação é uma decisão que cabe ao presidente Lula", disse o presidente do partido. Sobre a composição do governo, Temer afirmou que, "se pudesse dar um conselho ao presidente, falaria para ele começar o governo já com a nova equipe".

O conselho nacional do PMDB é composto por cerca de 60 lideranças - o ex-presidente da República, governadores, ex-presidentes da legenda, presidentes dos diretórios estaduais e líderes e presidentes das Casas do Congresso (atuais e antigos) - e votou ontem por aclamação. A única abstenção foi do presidente do diretório do Acre, João Correia. Dos 60 integrantes do conselho, 45 estavam presentes. Havia também alguns deputados e senadores que não integram a máxima instância partidária.

O ministro da Coordenação Política, Tarso Genro, falou por telefone com o presidente Lula, que está na África, e disse que a decisão do PMDB foi comemorada: "Esta é uma grande notícia", teria dito o presidente. (Colaborou Paulo de Tarso Lyra).