Título: Chávez quer mudar lei para se reeleger várias vezes
Autor: Rittner, Daniel
Fonte: Valor Econômico, 01/12/2006, Internacional, p. A11

Com os nervos à flor da pele, a Venezuela deverá reeleger neste domingo o presidente Hugo Chávez para um novo mandato de seis anos, prolongando o governo bolivariano que o "comandante", como é chamado pelos simpatizantes, instalou em 1999.

Entusiasmado com a perspectiva de sua candidatura, Chávez falou ontem em fazer reformas na Constituição para permitir a si próprio reeleições sucessivas. Em entrevista no Palácio Miraflores, sede do Poder Executivo, ele mencionou os casos do presidente francês, Jacques Chirac, e do premiê britânico, Tony Blair, para dizer que não vê problemas em candidatar-se novamente outras vezes. Blair, por exemplo, já está há dez anos no poder.

Em resposta a uma jornalista venezuelana que lhe perguntou se a alternância de partidos e pessoas não era saudável à democracia, Chávez brincou que não está pensando em pôr na Constituição - ele tem falado vagamente em reformas - qualquer referência à Presidência vitalícia, mas sublinhou: "É uma coisa muito diferente de dar a possibilidade de reeleição indefinida". Em seguida, garantiu que as reformas que proporá não tocarão nas garantias ao direito de propriedade privada e serão todas submetidas a referendo popular. No último comício em Caracas, no domingo passado, ele disse que seu governo foi, até agora, um período de "transição" para o socialismo.

As eleições ocorrem em um clima de tensão. Pela primeira vez desde a chegada de Chávez ao poder, a oposição tem um candidato com chances de vitória, embora remotas. As últimas pesquisas dão 20 pontos de vantagem ao atual presidente, mas o oposicionista Manuel Rosales saiu praticamente do zero para alcançar, no mínimo, 35% das intenções de voto, segundo diferentes sondagens. Ex-governador do Estado petrolífero de Zulia, Rosales tem conclamado a oposição a aceitar o resultado da eleição, seja ele qual for. Em abril de 2002, no fracassado golpe que tirou Chávez de Miraflores por quase 48 horas, ele foi o único governador a firmar um ato de apoio ao presidente-relâmpago Pedro Carmona e a assistir pessoalmente à sua posse.

As pesquisas de boca-de-urna estão proibidas. Entidades e instituições - incluindo a Fedecámaras (federação das indústrias, da qual Carmona era presidente), centrais sindicais, o tribunal eleitoral, a OEA e a Igreja - vêm emitindo seguidos comunicados para pedir que não haja enfrentamento. Os dois lados já anteciparam, no entanto, que podem pedir contagem manual dos votos eletrônicos em caso de derrota. Observadores internacionais estão acompanhando de perto as eleições. "Aqui não há a menor possibilidade de fraude", garantiu Chávez, que pretende alcançar a marca de 10 milhões de votos no domingo - a população do país é de 25 milhões.

A embaixada dos Estados Unidos em Caracas orientou os americanos a evitar as ruas no dia da votação e recomendou a estocagem de água e alimentos em casa. Chávez afirmou que, se confirmar o favoritismo nas urnas, fará sua primeira viagem como presidente reeleito, na próxima quarta-feira, ao Brasil. "Estamos vivendo mais do que uma época de mudança (na América Latina). Estamos vivendo uma mudança de época." (DR)