Título: Mais perto do tetra
Autor: Monteiro, Luciana
Fonte: Valor Econômico, 01/12/2006, EU & Investimentos, p. D1

Dezembro começa com a expectativa de a bolsa celebrar o quarto ano consecutivo de alta. Depois de o Índice Bovespa fechar novembro com o segundo melhor desempenho entre os investimentos - perdendo apenas para o ouro, que subiu 7,23% por conta da queda do dólar no exterior -, com alta de 6,80% e perto do recorde de 42.069 pontos, as perspectivas ainda são positivas. É neste mês que tradicionalmente ocorre o rali de fim de ano, quando investidores e fundos tentam capturar ainda mais ganhos pontuais, para engordar a rentabilidade da carteira no ano.

Outro ponto favorável à bolsa é a injeção de recursos que o 13º salário traz para os ativos, o que dá um pouco mais de liquidez para a bolsa. Com isso, os investimentos em renda variável costumam subir um pouco no fim do ano. Portanto, o vaivém do pregão também começa a entrar em ritmo de festa. A avaliação dos economistas é de que o mercado continuará neste mês dependente dos dados sobre a economia mundial, principalmente americana. Internamente, a definição do novo Ministério da Fazenda, da equipe econômica e especulações sobre novos rumos para a política monetária deverão dominar a cena, avalia o administrador de investimentos Fabio Colombo. Ele alerta também que há um risco de queda das bolsas ao redor do mundo, num movimento natural após as expressivas altas dos últimos dois meses.

Dezembro é quando os investidores institucionais começam a redefinir seus portfólios e estratégias de investimentos para o ano seguinte. Até o momento, o otimismo ainda impera na bolsa, embora a maior parte dos economistas acredite que 2007 será um ano de maior seletividade. O juro menor, a expectativa de um PIB maior e a inflação dentro da meta são favoráveis, diz Regis Abreu, sócio da Mercatto Gestão de Recursos. "Mas o ano será de seleção, pois quanto mais elevado o índice, mas difícil é o trabalho de garimpo de ações."

A liquidez mundial deve continuar alta, dada a expectativa de que a desaceleração da economia americana terá uma trajetória suave e de que os juros nos EUA continuarão por mais um tempo na casa dos 5,25% ao ano, avalia Julio Martins, diretor da Prosper Gestão de Recursos. A maioria dos economistas projeta uma alta entre 25% a 30% para o Índice Bovespa no ano que vem.

O número de ofertas públicas tem tudo para se manter alto, avalia Alexandre Póvoa, diretor da Modal Asset Management. Isso traz novos setores para a bolsa, o que é positivo para que haja uma maior diversificação do mercado brasileiro. Destaques são os setores imobiliário e de construção civil, já que o crédito para imóveis deve continuar a crescer, diz Póvoa.

Com liquidez externa elevada, os emergentes devem continuar atraindo investimentos e o dólar aqui tende a se manter nos níveis atuais. Isso não elimina os momentos de alta provocados pela incerteza no exterior, como em novembro, quando a moeda americana registrou alta de 1,17%. No ano, o dólar registra desvalorização de 6,80%. "Não recomendo o dólar como investimento", diz Arthur Carvalho Filho, economista-chefe da Ativa Corretora. A moeda americana perde terreno lá fora para o euro, que se mostra numa trajetória de valorização diante da expectativa de menor crescimento nos Estados Unidos e de alta dos juros na Europa e no Japão. No mês passado, a moeda européia apresentou alta de 5,06% em relação ao real, mas no ano a valorização é de 3,79%. Os fundos cambiais em euro foram destaque em novembro, com ganhos na casa dos 5% até dia 28, segundo o site Fortuna.

Já o ritmo de corte dos juros, hoje em 13,25% ao ano, tem tudo para ser menor daqui para frente. Fabio Colombo lembra que a queda prevista em 2007 já está no preço dos papéis prefixados de médio e longo prazos. Com isso, a possível vantagem dos fundos de renda fixa prefixados em relação aos DI é pequena. No prefixado, diz ele, haveria risco de a inflação fugir um pouco do previsto ou algum fato externo obrigar o Banco Central a alterar a política monetária. No ano, o CDI registra alta de 13,92%.