Título: Bate-boca entre Tasso e Jutahy expõe crise interna no PSDB
Autor: Ulhôa, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 30/11/2006, Política, p. A12

Uma violenta discussão marcou a reunião da Comissão Executiva Nacional do PSDB, na terça-feira passada, destinada à discussão dos rumos do partido pós-eleição. O presidente do partido, senador Tasso Jereissati (CE), chamou de "traidor" o líder da bancada na Câmara, Jutahy Júnior (BA), que reagiu acusando-o de não ter "vocação democrática" e "capacidade de presidir o partido".

Ligado ao governador eleito de São Paulo, José Serra (PSDB), Jutahy apoiou a candidatura do petista Jaques Wagner ao governo da Bahia, contrariando a orientação da direção tucana, a favor de aliança com o governador Paulo Souto (PFL).

"Ele perdeu a cabeça", afirmou Jutahy ao Valor. O clima começou a ficar tenso quando Jutahy fez críticas ao comportamento da bancada tucana no Senado, por votar a favor da proposta do PFL de um 13º salário para os beneficiários do Bolsa Família e participar da absolvição dos senadores envolvidos na máfia das sanguessugas. "Isso não tem cabimento. É preciso ter partido", disse.

Irritado, Tasso aproveitou o momento para submeter à Executiva a aprovação de uma resolução proibindo que o PSDB participe de governos estaduais administrados por aliados do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. É o caso da Bahia, onde Jaques Wagner convidou a ala do PSDB à qual pertence Jutahy para participar do governo.

O líder da Câmara reagiu com irritação. "Tem um ditado popular segundo o qual jabuti não sobe em árvore. Se estiver no alto, é enchente ou é mão de gente. Vamos deixar claro que esta resolução é específica para a Bahia", disse. Tasso confirmou que a motivação era a situação da Bahia.

Jutahy disse que a resolução atendia aos interesses do senador Antonio Carlos Magalhães (PFL), cujo grupo foi derrotado por Jaques Wagner. O líder fez duras críticas ao carlismo, dizendo que o fim das oligarquias políticas na Bahia e no Maranhão foi positivo para o país.

Tasso, que tem relações políticas e pessoais com ACM, disse que Jutahy estava se sentindo "melindrado" e afirmou que a posição do líder era incoerente, porque ele vinha de uma oligarquia, já que pai e avô eram políticos. A tensão cresceu. Na presença dos integrantes da Executiva, o presidente do PSDB disse que não agüentava mais Jutahy, que havia "traído" o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso em 1994 e já deveria ter deixado o partido. O deputado baiano respondeu no mesmo tom. "Traidor, nesta sala, todos sabem quem é", disse. Referia-se ao próprio Tasso, que não apoiou FHC em 98 e Serra, em 2002. "Você não tem vocação democrática nem capacidade de presidir o partido", completou Jutahy.

A discussão encerrou a reunião. O secretário-geral do PSDB, deputado Eduardo Paes (RJ), evitou que a resolução fosse à votação, alegando não haver clima. Quem assistiu à briga saiu certo de que o rompimento entre eles é definitivo. E que uma crise interna foi aberta no PSDB, antes mesmo de iniciado o processo de reformulação da legenda.