Título: Lula diz ao PDT que déficit é do Tesouro e não da Previdência
Autor: Ulhôa, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 29/11/2006, Política, p. A8

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem, durante encontro em que pediu o apoio do PDT ao governo durante o segundo mandato, que o déficit é do Tesouro e não da Previdência, e prometeu mudanças. Mais tarde, após cerimônia de comemoração ao dia da Consciência Negra, Lula justificou-se: "O déficit na verdade é muito mais do Tesouro do que da Previdência". Para o presidente, se for analisado o que a Previdência arrecada de trabalhadores e empresários e o que efetivamente paga, chega-se à conclusão que o déficit é pequeno. Lula afirmou que a diferença nas contas é decorrente das políticas de seguridade social implementadas a partir da Constituição de 1988.

"Fomos nós na Constituição de 1988 que colocamos 7 milhões de trabalhadores rurais dentro da Previdência Social. Fomos nós que aprovamos a LOAS (Lei Orgânica da Assistência Social), que fizemos todas as políticas de seguridade social, que aprovamos o Estatuto do Idoso".

Para Lula, jogar todos esses débitos na conta da Previdência é uma injustiça. "O que nós temos que encontrar é uma saída para o déficit do Tesouro e a reforma da Previdência".

O presidente defendeu que a alternativa seja aumentar a fiscalização para diminuir as fraudes. Cogita-se no Palácio do Planalto, inclusive, nomear o atual diretor geral da Polícia Federal, Paulo Lacerda, para dirigir o combate das fraudes na Previdência: "Nós precisamos e estamos fazendo o censo. Já estamos resolvendo os problemas das filas, hoje você já não ouve falar mais tanto em fila porque o 135, que é uma discagem nacional de Oiapoque ao Chuí vai marcar consulta por telefone. Eu acho que nós estamos andando".

O presidente recusou a reforma da Previdência durante encontro com o PDT porque o partido tem esta posição. Lula afirmou à cúpula do PDT, com quem se reuniu, que "o mandato da divergência acabou", numa referência às críticas do partido durante o primeiro mandato, que levaram ao rompimento com o governo e ao lançamento de candidatura própria nas eleições presidenciais - o senador Cristovam Buarque.

"Esse mandato acabou. Agora a gente pode construir o mandato da convergência e o PDT é uma peça fundamental, que tem afinidades com o PT", disse o presidente, recordando não apenas as campanhas eleitorais, mas a luta pela redemocratização do país.

O presidente do PDT, Carlos Luppi (RJ), classificou a reunião de ontem como um "reencontro". Para ele, citando o ex-presidente da legenda, Leonel Brizola, "muitos reencontros são melhores do que o primeiro encontro". Não escondeu a intenção de levar seu partido de volta para o governo, contando, inclusive, com assento no Conselho Político. E minimizou as divergências recentes entre os dois partidos. "Temos afinidades programáticas. O ser humano é o único ser vivo que tem direito à evolução. O presidente Lula aprendeu, está mais maduro, foram muitas decepções nestes primeiros quatro anos".

Lula lembrou Brizola, que foi seu vice em 1998 mas com quem teve, em diversos momentos, uma relação conturbada. "Apesar das divergências, lembro dos rasgos de generosidade que, de vez em quando, o Brizola tinha em relação a mim", afirmou o presidente, de acordo com o governador eleito do Maranhão, Jackson Lago. O próprio Lago foi tratado com carinho, apesar de, no segundo turno, Lula ter ido pessoalmente ao Maranhão pedir votos para sua adversária, a pefelista Roseana Sarney. "O presidente me disse que, apesar desse episódio, temos um histórico de parcerias maior do que de divergências", afirmou Lago.

Lula prometeu ainda que vai chamar o senador Cristovam Buarque (DF) para uma conversa. Cristovam foi candidato à Presidência com um discurso duro contra Lula. Lula brincou sobre um episódio que traumatizou o ex-ministro da educação, Cristovam Buarque: a demissão por telefone, durante a reforma ministerial de 2004. "Eu não sabia que ele estava fora do país. Talvez não soubesse porque ele não tenha me avisado", disse o presidente.

O deputado Miro Teixeira (RJ) - que ouviu do próprio Roberto Jefferson (PTB), em 2004 que o Executivo pagaria "mensalão" para os integrantes da bancada governista - também foi ao Planalto e disse que "PDT e PT estiveram juntos em vários momentos da história política brasileira e precisam manter essa parceria". Miro é um dos líderes, dentro do PDT, da idéia de aderir ao governo. Já o senador Osmar Dias (PR) - que enfrentou outro aliado do Planalto, o governador reeleito do Paraná, Roberto Requião (PMDB), na disputa de outubro, defendeu uma posição de independência. "Queremos isso no Senado, votar contra os projetos que considerarmos não serem de interesse do país. Mas se a Executiva deliberar a favor da coalizão com o governo, teremos que acatar", admitiu Osmar. A reunião da Executiva do PDT está prevista para janeiro.