Título: Unida, cúpula do PMDB sinaliza desistência de disputa na Câmara
Autor: Ulhôa, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 29/11/2006, Política, p. A8

Em torno de uma paella, servida na casa do presidente do PMDB, deputado Michel Temer (SP), governistas e ex-oposicionistas do partido selaram ontem a união da cúpula da legenda pela participação no governo de coalizão proposto pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A formalização deve acontecer amanhã, em reunião do conselho político nacional do partido em Brasília. A decisão é considerada certa, apesar da dissidência de seis senadores (atuais com mais quatro mandatos ou recém-eleitos), sob a liderança dos ex-governadores Jarbas Vasconcelos (PE) e Joaquim Roriz (DF).

Numa demonstração de rara unidade, Temer - ex-independente, hoje defensor da participação no governo - reuniu ontem em sua casa, para um almoço, os senadores Renan Calheiros (PMDB-AL), presidente do Senado, e José Sarney (PMDB-AP), principais interlocutores de Lula no partido. Também participaram o ex-governador Orestes Quércia, presidente do PMDB paulista e idealizador do almoço pacificador, o deputado Geddel Vieira Lima (BA) e os governadores reeleitos Paulo Hartung (ES) e Eduardo Braga (AM).

"Nunca vi o PMDB tão unido nos 28 anos aos quais pertenço ao partido", afirmou Sarney. Lembrando que o PMDB é o partido atualmente com maior número de governadores, deputados e senadores, afirmou que o apoio da legenda dará "tranqüilidade" ao governo. Mas deixou claro que a intenção não é apenas apoiar a governabilidade, e sim participar da formulação das políticas públicas e do programa de governo e das decisões de governo.

"Evidentemente, quando se fala em unidade não se pode falar em unanimidade. Há sempre pessoas num partido desse tamanho com pontos de vista divergentes. Mas não acredito que esses pontos de vista sejam capazes de abalar a unidade do partido. Mesmo aqueles que divergiram vão compreender que o partido não pode fugir ao seu dever de apoiar a governabilidade do país", disse Sarney.

Um dos temas delicados discutidos na casa de Temer é a disputa pelas presidências do Senado e da Câmara, porque tem causado atritos entre deputados e senadores. Renan negou que sua articulação pela reeleição prejudique a postulação da bancada da Câmara pelo cargo. Disse que as duas coisas não estão vinculadas e que gostaria de construir um "muro" entre as das Casas, para que uma eleição não contamine a outra. "Não se pode tirar de cada parte o direito da disputa", disse Renan.

Apesar dos discursos, o próprio Geddel, um dos postulantes à vaga, mostrou disposição para abrir mão. "Uma candidatura à Câmara só pode ter sentido se encarnar um movimento de unidade, com apoio majoritário da base de apoio do governo. Por isso acho que o PMDB não deve patrocinar uma candidatura de conflito", afirmou. Para Geddel, o PMDB não deve fazer da disputa uma "guerra de fim de mundo".

O conselho nacional do PMDB é integrado por ex-presidentes e ex-líderes do partido, presidentes dos diretórios estaduais, governadores, ex-presidentes da República e integrantes da Comissão Executiva Nacional. São cerca de 65 pessoas, mas Temer aguarda também a participação de deputados e senadores, podendo elevar o número de presentes para 150.

Os pemedebistas se recusam a falar de ocupação de cargos, embora o ponto seja óbvio. "Supõe-se que será uma participação significativa no governo", reconheceu Temer. Mas ele, como as outras lideranças do partido, garantem que a aprovação do governo de coalizão se dará a partir do compromisso com os sete pontos integrantes da proposta formal apresentada por Lula.

Da lista, genérica, consta a realização de reforma política, reforma tributária com redução gradual de carga de impostos, política econômica comprometida com um crescimento mínimo de 5% nos próximos quatro anos, evolução das despesas correntes inferior ao crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), consolidação das políticas de transferência de renda, exame das dificuldades fiscais dos estados e criação de um conselho político composto pelos partidos de coalizão para acompanhar as ações de governo.

Segundo o governador Eduardo Braga, a discussão de cargos ficará para um segundo momento, depois da aprovação desses compromissos pelo conselho político do partido. "Estabelecida uma agenda mínima para o governo de coalizão, o PMDB tem quadros. Tem homens experientes, experimentados em vários níveis da República, e condições de participar de vários espaços que o governo federal há de abrir para o partido", disse.