Título: "Estou com a corda no pescoço", diz Gedimar
Autor: Jayme, Thiago Vitale
Fonte: Valor Econômico, 29/11/2006, Política, p. A9

A CPI das Sanguessugas ouviu ontem o depoimento de Gedimar Passos e Hamilton Lacerda, dois dos principais petistas personagens da suposta e malsucedida compra do dossiê anti-PSDB por integrantes da campanha do presidente Lula à reeleição. Gedimar foi preso pela Polícia Federal, em setembro, com R$ 1,7 milhão que seria usado para pagar a compra dos documentos. Ontem, perguntado sobre quem lhe orientou a pegar o dinheiro e quem o avisou do recebimento da verba, o ex-agente federal foi direto: "Eu já estou com a corda no pescoço. Não posso puxá-la ainda mais".

Depois dessa declaração, Gedimar não falou mais nada sobre o dinheiro apreendido com ele e com Valdebran Padilha, o outro petista preso com ele no mesmo hotel de São Paulo. "Eu não sei a origem do dinheiro", afirmou. O subrelator da CPI, deputado Fernando Gabeira (PV-RJ), disse, então, que Gedimar teria sido o escolhido pelo grupo para se responsabilizar pelo dinheiro. "Sim, porque Jorge Lorenzetti e Expedito Veloso afirmaram desconhecer o dinheiro e atribuem tudo ao senhor", afirmou o parlamentar. Gedimar deu uma resposta resignada: "Se a circunstância é essa, eu assumo a minha parte".

O deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP), outro subrelator da CPI, analisou o depoimento de Gedimar. "Quando eles (os petistas envolvidos na compra do dossiê) se negam a responder é a prova de que eles fizeram, sim, parte de uma ação criminosa", avalia.

Durante o depoimento, Gedimar fez uma acusação à Polícia Federal, órgão do qual ele é aposentado como agente. Ele acusa os delegados envolvidos na investigação de maus tratos. Três dias depois da prisão, em 15 de setembro, Gedimar foi transferido para Cuiabá e, segundo ele, levado ao presídio de Pascoal Ramos, onde foi "literalmente jogado" em uma cela. "Fiquei 13 horas de castigo com água até a canela para amolecer o meu juízo", denunciou.

A pedido do deputado Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP), Gedimar mostrou marcas na perna que seriam resultado das horas seguidas em contato com a água suja da cela. No período, o depoente afirmou que ficou sem comer. Gedimar diz que relatou o caso ao delegado Diógenes Curado, chefe do inquérito na PF, que teria dado risada ao saber do assunto. A PF disse ontem "estranhar" a revelação feita por Gedimar dois meses depois do acontecido e avisou que o fato "será investigado".

Depois de Gedimar, foi a vez de Hamilton Lacerda falar à CPI. Ele fazia parte da coordenação da campanha do senador Aloizio Mercadante (PT) ao governo de São Paulo. O dossiê beneficiaria diretamente o parlamentar por conter supostas provas da ligação de José Serra (PSDB), seu adversário, com a máfia das Sanguessugas.

Lacerda confirma contato com os demais petistas responsáveis pela compra do dossiê. Mas diz apenas que sua participação se limitou a encontrar um veículo de comunicação para Luiz Antonio Vedoin, tido como chefe da máfia, conceder entrevista. Hamilton foi flagrado pela câmeras do hotel de São Paulo entrando com uma mala e duas sacolas. Suspeita-se de que seria o dinheiro para a compra do dossiê. Disse que eram roupas, laptop e boletos de arrecadação, não encontrados pela PF na operação. (TVJ)