Título: Tombini aumentará juros
Autor: Martins, Victor
Fonte: Correio Braziliense, 04/01/2011, Economia, p. 11

NOVO GOVERNO Presidente do Banco Central avisa que recebeu orientação de Dilma Rousseff para combater a inflação e proteger a renda dos mais pobres

Se ainda havia alguma dúvida sobre o aumento da taxa básica de juros (Selic) na reunião de 19 de janeiro próximo do Comitê de Política Monetária (Copom), ela foi enterrada ontem por Alexandre Tombini, que tomou posse na presidência do Banco Central, substituindo Henrique Meirelles. Em um discurso claro, ele disse ter o aval da presidente Dilma Rousseff para manter a inflação na meta definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), de 4,5% ao ano. A orientação de Dilma é de que se evite, a qualquer custo, o risco de corrosão do poder de compra dos mais pobres. Tombini defendeu ainda a redução da meta para 3% nos próximos anos, conforme se observa nos países emergentes.

Não se espera, porém, nenhuma paulada nos juros, já que, em dezembro, o BC promoveu um arrocho no crédito, ao exigir que os bancos recolhessem, compulsoriamente, mais R$ 61 bilhões em seu cofres. Sem esse dinheiro em circulação, a autoridade monetária espera reduzir o consumo e, por tabela, evitar que o país seja engolfado por uma bolha de crédito, como se viu nos países desenvolvidos, que estão em sérias dificuldades. Para Tombini, com as ações do BC, diminuirá o crédito ao consumo, de curto prazo, e aumentarão os financiamentos habitacionais, de mais longo prazo e que representam apenas 4% do Produto Interno Bruto (PIB).

Mas não será fácil a vida do BC. Devido à gastança do Executivo, o mercado projeta um Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 5,3% para 2011. Na avaliação de especialistas, um arrocho na Selic é urgente. A demanda segue crescendo em ritmo superior à oferta e corroendo fortemente o bolso do consumidor. ¿O BC não pode torcer por uma desaceleração natural dos preços ou para que o clima ajude no campo. Tem de agir preventivamente¿, argumentou Eduardo Velho, economista-chefe da Prosper Corretora.

Credibilidade De acordo com as previsões de Tombini, o consumo deve arrefecer em 2011 e dar uma ajuda ao Copom. Mas para não deixar qualquer espaço para questionamento, ele foi enfático: ¿O Banco Central não hesitará em tomar medidas tempestivas sempre que considerar necessário¿. Ele garantiu ainda os feitos de Meirelles durante o discurso de posse, mas admitiu que o cenário econômico está conturbado. Pensando na escalada da inflação, no derretimento do dólar, nos riscos do superendividamento do brasileiro e na regulação do sistema financeiro, assumiu que os desafios para sua administração serão grandes, mas afirmou que o BC reúne as qualidades necessárias para superar os problemas.

Henrique Meirelles, por sua vez, tentou se esquivar das criticas e também dos problemas inflacionários que deixou para o substituto. Disse que seu mandato foi cumprido plenamente, como manda a cartilha. ¿Excluindo os choques de alimentos, na média a inflação ficou no centro da meta nesses oito anos¿, afirmou. ¿O caminho da instabilidade foi intensamente testado no Brasil. Hoje, além de melhora dos fundamentos econômicos, houve também melhora da qualidade de vida das famílias¿, concluiu.

Encontro Antes da transição de cargo, ocorrida na tarde de ontem, Tombini e Meirelles se reuniram com ex-dirigentes do BC e presidentes dos principais bancos do país. Todos saíram satisfeitos do encontro com o novo comandante da política monetária. ¿A escolha de Tombini denota a importância do sistema de metas e a conciliação do combate à inflação com as metas de crescimento¿, disse Luiz Carlos Trabuco, presidente do Bradesco. Roberto Setúbal, presidente do Itaú Unibanco também teceu elogios. ¿O país está bem servido com a escolha da presidente¿, avaliou.

Para Fábio Barbosa, presidente da Federação Brasileira de Bancos (Febraban) e do Conselho de Administração do Santander, Tombini está indo no caminho certo, representa a continuidade do trabalho de Meirelles e a ¿consagração do sistema de metas de inflação¿. Acredita ainda que a nova gestão trará bons resultados para o país e frisou que a forma como o BC vem promovendo os ciclos de aperto monetário permite previsibilidade e a possibilidade de planejamento para as famílias e as empresas.

Além de perseguir a redução da meta de inflação, o novo presidente do BC promete aperfeiçoar a regulação e supervisão do sistema financeiro e promover a inclusão financeira sem gerar endividamentos exagerados. Pretende trabalhar intensamente neste início de gestão para aprimorar os processos da instituição. ¿É preciso ficar atento. O BC continuará a aperfeiçoar suas ferramentas¿, afirmou.

Funcionários no poder »No discurso de posse, Alexandre Tombini, novo presidente do Banco Central, mostrou que vai valorizar os servidores da casa, principalmente por ter origem nos quadros da instituição. Abriu sua fala homenageando e exaltando o funcionalismo. Atribuiu a credibilidade da autoridade monetária aos técnicos do órgão. ¿Desde 1964, o Banco Central do Brasil conta com profissionais que souberam lidar com todos os tipos de adversidades¿, disse. Centenas de servidores foram ao auditório da instituição cumprimentar o novo presidente. Grande parte deles queria sair na foto com Tombini. Durante a posse, somente depois de falar dos funcionários da casa, o titular agradeceu à presidente Dilma Rousseff ¿pela oportunidade de comandar a política monetária¿. Disse que vai cumprir com afinco seu papel de proteger a estabilidade e o poder de compra do país. ¿A estabilidade de preços é uma conquista do povo brasileiro. O crescimento só pode ser alcançado com inflação baixa e previsível.¿

IPC-S fica em 6,24% no ano Alexandre Tombini inicia sua missão à frente do Banco Central com o desafio de domar a inflação. Em 2010, ela não deu trégua ao bolso do consumidor e, segundo a Fundação Getulio Vargas (FGV), o Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S) fechou o ano em 6,24%. Em 2009, esse percentual havia sido bem menor, 3,95%. A demanda por alimentos e serviços superou a oferta e esses preços dispararam. Tomate, carnes, açúcar e feijão foram os vilões do ano. Na última semana de dezembro, o indicador fechou em 0,72% ¿ desacelerou 0,42 ponto percentual frente o início do mês. As projeções do mercado também pioraram. No Boletim Focus, as expectativas subiram pela quarta semana seguida atingindo 5,31% para este ano.

O que mais pesou na taxa de dezembro foram os grupos de produtos alimentação e vestuário. O primeiro registrou encarecimento de 1,43% no mês; o segundo, 0,80%. As carnes bovinas registraram alta de preços de 2,71%, as frutas encareceram 2,32% e os adoçantes, 6,41%. O preço do tomate explodiu no mês, marcou elevação de 16,15%. As roupas subiram em decorrência da mudança de estação, que alterou as coleções nas lojas, e do Natal. No grupo transportes, as passagens aéreas tiveram forte reajuste por causa da demanda elevada das férias de fim de ano. Ficaram 9,99% mais caras.

Alguns itens, apesar de terem ficado mais caros em dezembro, apresentaram leve desaceleração. ¿No entanto, alguns serviços como saúde e cuidados pessoais, despesas diversas, artigos de higiene e mensalidades para TV por assinatura apresentaram alta significativa. O resultado final será o de manutenção de pressão inflacionária¿, avaliou Evaldo Alves, professor de Economia da FGV. Ainda segundo ele, as projeções do Boletim Focus foram reajustadas devido a aceleração do deficit público.

Para Eduardo Velho, economista-chefe da Prosper Corretora, o mercado ainda está cético em relação ao esforço fiscal prometido pelo Ministro da Fazenda, Guido Mantega. ¿O ajuste fiscal deve ser feito, mas não se sabe em quais condições¿, ponderou. ¿Mesmo que a Fazenda anuncie ajuste fiscal, é muito perigoso o BC entrar nessa. Pode ser criticado mais na frente. É um risco elevado apostar nisso para controlar a inflação¿, argumentou Velho.

Nas projeções de curto prazo, os analistas com melhor nível de acerto no Focus também pioraram suas expectativas. Passaram de 0,62% para 0,67% no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de janeiro. ¿Ainda assim não acredito que vá haver uma elevação acentuada nos juros. Serão no máximo quatro altas. Não chega a dois pontos percentuais¿, calculou Velho. (VM)

Mercado prevê elevação de 0,5 ponto De acordo com o Boletim Focus, o mercado espera que no Comitê de Política Monetária (Copom) de 18 e 19 de janeiro eleve a Selic (taxa básica de juros) em 0,5 ponto percentual. Com o incremento, o índice subirá para 11,25%. Na mediana dos analistas que mais acertam as previsões, a Selic para o ano está em 12,38%, expectativa alcançada após duas pioras seguidas.

Desconto de até 80% Os tradicionais saldões de início de ano já começam a aparecer nos primeiros dias de 2011. Com o objetivo de limpar as prateleiras, os comerciantes de todo o Brasil se apressam para lançar as liquidações que mantêm as vendas aquecidas mesmo depois das festividades. Os banners estampados nas vitrines anunciam reduções que chegam a 80% do preço original. As grandes redes de varejo apostam em descontos generosos.

O bancário Mário Henrique Fontenelle, 34 anos, e a namorada, Rosângela Ferreira,41, aguardaram a queima de estoques para comprar tevês. ¿Vou levar uma TV para mim e vou dar uma de presente para ela¿, disse Fontenelle. ¿Dei uma olhada no mês passado e a diferença é de uns R$ 300.¿

Nesta semana, os consumidores podem aproveitar as promoções nas principais redes. A Ricardo Eletro, por exemplo, liquidará, de quinta-feira a domingo, os produtos remanescentes. A expectativa é de um aumento de 17% das vendas, em relação ao mesmo período de 2009. O grupo Walmart espera faturar ainda mais com o saldão, que ocorre nesses primeiros dias do mês: 20% acima dos lucros de janeiro de 2010.

O economista da Confederação Nacional do Comércio (CNC) Fábio Bentes explica que o crescimento exprime a recuperação do mercado brasileiro à crise de 2008. ¿O ano passado foi o melhor do comércio na década. O crescimento do setor deve chegar a 11,9%. Em 2007, o segundo melhor ano, o índice atingiu 9,7%. Este foi um período de recuperação, já que houve desaceleração por conta da crise¿, disse. Segundo dados do Banco Central (Bacen), as operações de crédito continuaram crescendo em novembro. ¿A situação favorável do último semestre continua em janeiro. Mesmo que o Banco Central tenha tomado medidas para conter o crédito, as pessoas têm muito acesso, o que leva ao consumo. Além disso, o emprego em alta e a renda subindo acima da inflação impulsionam as vendas.¿

Balanço de Natal A Associação Brasileira de Lojistas de Shopping (Alshop) divulgou o crescimento das vendas de Natal comparado a 2009. Os shoppings registraram aumento de 13% nos lucros. Óculos, bijuterias e acessórios integram o seguimento que teve maior crescimento, com 18%, seguido de perfumaria e cosméticos e eletroeletrônicos e eletrodomésticos, ambos com 17%. Os consumidores também gastaram mais com livros , DVDs e CDs. O setor teve acréscimo de 14%. Compras de vestuários subiram 13% e de calçados, 12%.