Título: Agripino busca apoio para enfrentar Renan no Senado
Autor: Ulhôa, Raquel e Jayme, Thiago Vitale
Fonte: Valor Econômico, 28/11/2006, Política, p. A8

A campanha pela eleição do futuro presidente do Senado, que acontecerá em fevereiro, está a pleno vapor, embora os dois postulantes ainda não tenham lançado publicamente suas candidaturas. O atual presidente, Renan Calheiros (AL), que tem conversado com todos os senadores em busca de consenso por sua reeleição, pediu ontem ao presidente do PDT, Carlos Lupi, apoio do partido. Enquanto isso, o líder do PFL, José Agripino (RN), que contabiliza apoios em todos os partidos, está tendo dificuldade para unir a oposição em torno do seu nome.

"No Congresso, o consenso é eventual. Permanente é a disputa", afirmou Agripino, em reação a declarações dadas por Renan sobre a importância de uma candidatura à Presidência do Senado ser consensual, para que se mantenha o clima de diálogo e negociação existente na casa. O favoritismo de Renan é reconhecido até no PFL e no PSDB, partidos de oposição que ainda discutem a viabilidade eleitoral do lançamento de um nome para enfrentá-lo. Apesar de aliado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Renan manteve diálogo e negociação com a oposição, que tem no Senado sua maior força parlamentar.

Por outro lado, o pemedebista enfrenta resistências em seu próprio partido, onde parlamentares da legenda vêem em sua tentativa de reeleição empecilho à pretensão do partido de presidir à Câmara. Há senadores do PMDB que votariam em Agripino ou em outro candidato da oposição, se houvesse chance de vitória. "Outra candidatura (diferente de Renan) seria não alinhada ao governo. Daria mais independência ao Senado", afirmou o ex-governador Jarbas Vasconcelos (PE), eleito senador.

Ele encabeça um grupo de seis senadores do PMDB que pretende fazer oposição a Lula, mas está dividido em relação à Mesa Diretora. O ex-governador Joaquim Roriz (DF), por exemplo, defende a reeleição de Renan. O próprio Jarbas disse que só apoiaria uma candidatura de oposição que fosse viável. "Não embarco se for só para marcar posição", disse.

Por causa da boa relação que Renan mantém com os partidos de oposição na condução do Senado, senadores do PSDB e até do PFL questionam, reservadamente, se vale a pena entrar numa disputa por seu cargo, que poderia prejudicar a convivência política, além de ameaçar seus espaços de poder na casa. Segundo interlocutores de Renan, se a oposição insistir numa disputa, ficará fora da composição da Mesa Diretora. Efraim Morais (PFL-PB), primeiro secretário do Senado, por exemplo, seria contra a candidatura do líder do seu partido, para não perder o cargo.

Renan telefonou a Agripino no fim-de-semana negando a ameaça. Afirmou ao líder que considera legítimo que o PFL postule o cargo, mas ponderou que o melhor para a casa seria não haver disputa. O PFL se reúne amanhã para discutir o assunto. "Minha preocupação é saber qual é a prioridade do meu partido e do PSDB: eleger o presidente da casa ou ter um representante na Mesa. Serei candidato se sentir que os dois partidos têm prioridade na eleição para presidência da casa", afirmou Agripino.

Na Câmara, a maior parte da bancada defende uma candidatura própria do partido à presidência. A questão, para os deputados, é o excesso de poder acumulado por Renan nos quatro primeiros anos do governo Lula. Renan e Sarney monopolizaram as indicações de cargos e as negociações com o Palácio. Aos deputados, restaram migalhas. Querem uma relação distinta no segundo mandato de Lula, com o partido oficialmente apoiando o governo.

A bancada do PMDB na Câmara identifica em Renan o trabalho pela candidatura de Aldo Rebelo (PCdoB-SP) à reeleição. O comunista perde, por ora, a chance de ter o PMDB ao seu lado. Se a vitória de Aldo significar a vitória de Renan, os pemedebistas da Câmara terão dificuldades em apoiá-lo. Avaliam que a estratégia de Renan é minar possíveis pontes de diálogo do PMDB da Câmara com o Palácio. Renan estaria, na opinião dessa fatia do PMDB, tentando preservar-se como único interlocutor do partido junto ao Palácio ao lado de Sarney. Nesse ponto de vista, uma negociação do PMDB na Câmara seria feita diretamente com o PT. Temer e os dois candidatos já colocados dentro do partido, os deputados Eunício Oliveira (CE) e Geddel Vieira Lima (BA), até aceitam um debate sobre quem presidirá a Câmara, mas as rodadas de negociação teriam de passar por eles e não por Renan.

Dos dois pré-candidatos, aquele que tem se colocado de forma mais discreta é Geddel. Nos bastidores, conversa todos os dias com Temer e outras lideranças. Mas sempre avisa a todos que uma negociação deve passar pelo Planalto. E a candidatura, pelo PT, de Arlindo Chinaglia (SP) deve ser debatida. Os dois partidos já têm conversado. Hoje, a surpresa seria o PMDB apoiar o nome de Aldo. O assunto será tratado no almoço de hoje, na casa de Temer, do qual participarão também o ex-governador de São Paulo Orestes Quércia, Renan e Sarney. Temer não gostou da dupla de senadores visitar Lula no dia seguinte ao encontro no qual ele, Temer, anunciou que o PMDB participaria do governo.