Título: América do Sul e África fazem cúpula inédita
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 27/11/2006, Brasil, p. A7

A América do Sul e África realizam a partir de quinta-feira a primeira cúpula entre os dois continentes na capital da Nigéria, um passo importante para impulsionar a cooperação Sul-Sul. Este encontro inédito contará com a presença dos presidentes ou ministros dos 12 países da Comunidade Sul-Americana de Nações (CSN) e dos 53 estados-membros da União Africana (UA), entre os quais se encontram os mais pobres do mundo, e também vários emergentes como Brasil e África do Sul.

Os promotores desta primeira reunião bicontinental de alto nível são Brasil e Nigéria, que a elaboraram em Abuja durante a visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em abril de 2005, e por ocasião da viagem a Brasília de seu colega nigeriano, Olosegun Obasanjo, em setembro desse ano. "A cúpula foi concebida como um verdadeiro instrumento para unir os países da África e da América do Sul numa relação que beneficie mutuamente o âmbito da cooperação Sul-Sul", explicam os organizadores.

O evento acontece depois de vários encontros que demonstraram o crescente interesse das regiões em desenvolvimento e emergentes em ampliar seus mercados em nível internacional. Um deles foi o Foro de Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (Apec), no qual vários países latinos da costa pacífica reforçam cada vez mais suas relações, principalmente econômicas.

Na zona atlântica, o interesse mútuo da África e América Latina vem sendo demonstrado há alguns anos com inúmeras viagens de presidentes de ambos os lados do oceano, como foi o caso das cinco visitas que Lula realizou desde que ocupou a presidência, em 2003.

Outros eventos que ajudaram na concretização deste encontro são a cúpula árabe-sul-americana de 2005 e a segunda conferência de intelectuais da África e da diáspora em Salvador, Bahia.

Na declaração que adotarão ao final da cúpula, as partes repassarão os diferentes âmbitos onde espera reforçar a cooperação, não apenas econômica, como também política e cultural. Entre outras coisas, africanos e sul-americanos querem desenvolver ainda mais o comércio Sul-Sul, criar um Banco Africano-Sul-americano e afinar posições na Rodada de Doha de liberalização comercial da Organização Mundial do Comércio (OMC), atualmente em ponto morto.

A cúpula é precedida por uma reunião de organizações não-governamentais (ONG), realizada no sábado, um encontro de ministros de Comércio, ontem, e um de chanceleres, marcado para os dias 28 e 29 para concluir a declaração final da cúpula.

Inicialmente o encontro presidencial duraria dois dias, mas foi encurtado para um, pois muitos dirigentes sul-americanos viajam ao México para a posse do novo presidente, Felipe Calderón, em 1º de dezembro. Do lado sul-americano, em princípio, assistirão à cúpula os presidentes Brasil, Chile e Paraguai e os chanceleres da Argentina, Uruguai e Colômbia. A próxima cúpula, que será celebrada a cada três anos, acontecerá na Venezuela, em 2009.