Título: PT convoca Congresso e abre espaço para a troca da direção
Autor: Agostine, Cristiane
Fonte: Valor Econômico, 27/11/2006, Política, p. A10

Após um longo período distante das decisões executivas do PT, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reassumiu uma postura de comando no partido. Em seu primeiro encontro com a Direção Nacional da legenda após a reeleição, o presidente direcionou o tom das discussões sobre o futuro do PT. As divergências entre as diferentes correntes da legenda e a cobrança por alterações na política econômica e de alianças -marcas registradas das reuniões petistas - não tiveram espaço na plenária realizada no fim de semana, em São Paulo. Lula impôs a tese do governo de coalizão, com partidos à direita, mesmo com a possível diminuição do espaço para o PT.

A influência do presidente sobre as decisões do partido ficou evidente na reunião dos dirigentes. Lula também deixou claro que terá um papel ativo no processo de na substituição do presidente da sigla, a ser feita em 2007.

Após os dois dias de reunião, os dirigentes acataram as recomendações de Lula até mesmo sobre a indicação de um nome da base aliada para a Câmara, contrariando o desejo da bancada dos deputados do PT de indicar um petista. "Precisamos de um presidente aliado", ponderou Jilmar Tatto, terceiro vice presidente.

O recado dado por Lula e explicitado pelos dirigentes foi direto: preservar a todo custo o PT. O mandato do presidente licenciado do partido, Ricardo Berzoini, e dos demais dirigentes está previsto para terminar somente em 2008, mas diante das denúncias contra Berzoini, o partido quer diminuir de três para dois anos o período à frente dos cargos. Por consenso, foi antecipado em três meses o 3º Congresso Nacional, para julho, e novas eleições devem acontecer no segundo semestre do próximo ano. Só o congresso pode mudar as regras do partido.

Mesmo diante de novas denúncias de participação na compra do dossiê contra tucanos, Berzoini negou todas as acusações. "Estou absolutamente tranqüilo em relação ao episódio. Declaro minha isenção e aguardo com tranqüilidade". O deputado quer retornar ao cargo, mas isso só será possível após a conclusão das investigações.

Os dirigentes evitaram defender a volta de Berzoini. "As pessoas o respeitam, mas querem que o PT fique preservado", explicou o deputado Arlindo Chinaglia. Os petistas querem evitar que episódios como esse denigram a imagem do partido e para isso, vão levar ao Congresso uma proposta de um código de ética.

Além do problema envolvendo Berzoini, mais uma preocupação tomou parte das discussões petistas: o caixa do partido. Com mais de R$ 40 milhões de dívida, as contas da campanha do presidente Lula apresentam déficit estimado em mais de R$ 5 milhões e podem aumentar o rombo partidário. Amanhã é o prazo final para a prestação de contas e o presidente deve assumir a dívida ou transferir ao partido. "Até às 19 horas de terça, o PT tratará de resolver o problema", disse o tesoureiro do PT, Paulo Ferreira.

Em dezembro de 2005, o PT fechou o caixa com déficit de R$ 55 milhões, gerado por empréstimos tomados dos bancos BMG e Rural. Para aumentar a arrecadação, a sigla pedirá aos governadores eleitos no Piauí, Sergipe, Acre, Pará e Bahia para cobrar contribuições dos petistas nomeados para os cargos de confiança.