Título: Bush inicia novo mandato com país ainda mais dividido
Autor: Tatiana Bautzer
Fonte: Valor Econômico, 19/01/2005, Internacional, p. A9

No primeiro evento da série de cerimônias de posse de seu segundo mandato, o presidente George W. Bush começou seu discurso ontem à tarde dizendo que, passadas as eleições, "os americanos unem-se para celebrar a liberdade". A platéia exclusiva de militares e familiares, reunida num centro de convenções em Washington aplaudiu, mas o discurso está fora de sintonia com a opinião pública. Após uma das mais disputadas eleições das últimas décadas, o país está ainda mais dividida que antes. A vantagem obtida pelo presidente americano foi grande em número absoluto de votos (cerca de 4 milhões), mas a eleição aumentou a rejeição de Bush pelos democratas. Ele inicia o segundo mandato com aprovação de 52%, índice historicamente baixo. Uma pesquisa divulgada ontem pelo jornal "The Washington Post" mostra que as ações do início do segundo governo, anunciadas após a vitória eleitoral, não agradam à maior parte do eleitorado. A maior aversão é à reforma da Previdência que está sendo defendida pelos republicanos. Desde que foi criado, em 1938, pelo presidente Franklin Roosevelt como parte do "New Deal", pacote de medidas para enfrentar a Depressão, o Social Security tem sofrido ataques constantes de presidentes e legisladores conservadores. Com pleno domínio das duas casas no Congresso, Bush é o presidente com maiores chances de mudar o sistema. Segundo a pesquisa do "Post", 55% dos americanos desaprovam as propostas de Bush e 50% dizem confiar mais nos democratas no Congresso do que no presidente para reformar o sistema de seguridade social. Bush tem colocado a reforma da Previdência no topo da agenda, e a pesquisa constatou que a maior parte dos eleitores considera que a reforma não deveria ser a prioridade. Para os eleitores, a prioridade deveria ser a situação no Iraque. A rejeição ao modo como o governo administra a ocupação do país é de 58%, e nada menos que 45% acreditam que a guerra não valeu a pena. Neste ponto a percepção do presidente e do Partido Republicano confronta-se de modo mais abrupto com a realidade. Questionado recentemente sobre se alguém seria responsabilizado pelos erros no Iraque, Bush respondeu que "o momento de imputar a responsabilidade foi a eleição". Ele já afirmou várias vezes ter uma aprovação eleitoral à guerra e "mandato" para continuar a estratégia contra o terror e reformar a Previdência. Apesar do forte crescimento econômico, os americanos estão insatisfeitos com a política econômica do governo Bush, desaprovada por 52%, e a criação de gigantescos déficits públicos, condenada por 58% dos pesquisados do país. Outro tema que provoca grande divisão é o tributário. Ao contrário do que se poderia esperar, 49% aprovam o corte de impostos promovido pelo governo Bush. Mas 46% são contra as mudanças que reduziram a carga tributária sobre investimentos e poupança e mantiveram os impostos sobre folha de pagamentos. Em seu segundo mandato, Bush quer aprofundar a reforma tributária e existe até a hipótese de extinguir todo o Imposto de Renda sobre pessoas físicas e empresas, substituindo-o por um imposto sobre valor agregado. Uma das razões para a permanência da divisão no país é a percepção entre eleitores democratas de que houve irregularidades e fraudes em alguns Estados, como Ohio, por distorção das regras para registro de novos eleitores. Para tentar atenuar o efeito das críticas a celebrações suntuosas da posse em segundo mandato enquanto tropas estão no exterior, foram incluídos eventos com participação de militares. A cerimônia formal de posse será amanhã.