Título: Estrangeiras dominam leilão de transmissão e deságio atinge 51%
Autor: Capela, Maurício
Fonte: Valor Econômico, 27/11/2006, Empresas, p. B10

Um dos leilões mais disputados já organizado pelo governo federal teve a persistência como a grande vencedora. Isso porque as empresas que questionaram pontos do primeiro edital do pregão de linhas de transmissão, como a revisão tarifária, e conseguiram adiar sua realização de agosto para a última sexta-feira acabaram arrematando cinco dos sete lotes oferecidos.

As espanholas Elecnor e Cobra, que atuam no Brasil por meio de uma composição acionária na companhia Expansion, ficaram com três blocos, enquanto a brasileira Alusa comprou outros dois. O pregão vendeu 2,26 mil quilômetros de linhas e três subestações.

Essas empresas européias, que ainda têm como acionistas na Expansion as compatriotas Isolux e Abengoa, questionaram alguns pontos do primeiro edital e tiveram no início apoio da Alusa. Juntos, conseguiram liminar que impediu a realização do pregão pouco antes do seu início em agosto.

O Valor tentou falar com os grupos espanhóis. Mas nenhum executivo foi encontrado para comentar a aquisição dos lotes.

O pregão de sexta-feira foi um dos mais competitivos. Além do deságio médio de 51,13%, ainda registrou disputas, como no caso do bloco B, que teve mais de 100 ofertas. O governo abriu o pregão com uma Receita Anual Permitida (RAP) ao redor de R$ 203 milhões e fechou com um RAP próximo dos R$ 99 milhões. Esse indicador é o valor pelo qual o sistema pagará pela transmissão dos megawatts.

"Realmente, tivemos grandes deságios neste leilão e tenho curiosidade em saber se serão rentáveis", afirma Gustavo Gattass, analista de Energia do UBS. "Para o consumidor, o deságio foi bom, mas para quem atua neste setor não vejo como algo positivo", diz Carlos Nunes, analista de Energia da corretora SLW.

Além disso, o governo federal conseguirá também reduzir no futuro o valor gasto com a Conta Consumo de Combustíveis Fósseis (CCC), usada para subsidiar a geração de energia nos sistemas isolados do Brasil, que estão principalmente na região Norte. Atualmente, o governo gasta US$ 2,5 bilhões, sendo que esse valor é obtido por meio de um encargo cobrado na conta de energia de cada pessoa.

O lote, que será responsável por abater algo como US$ 500 milhões do total da CCC, é o A. Ele interliga os estados do Acre, Rondônia e Mato Grosso e foi arrematado pela espanhola Elecnor, que deverá colocá-lo em funcionamento em 2008. A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) estima que a construção desse bloco consuma algo como R$ 366 milhões.

Uma das surpresas, contudo, foi o apetite da colombiana ISA, que comprou em meados deste ano a Companhia de Transmissão de Energia Elétrica Paulista (CTEEP) por US$ 535 milhões. "Não esperava que eles arrematassem este bloco. Para mim, está claro que a meta da empresa é ganhar participação de mercado no Brasil", afirma Nunes, lembrando que o grupo quase desbancou a Cobra no lote B.

Fernando Rojas, que assumirá o comando da ISA Capital do Brasil, subsidiária do grupo colombiano e controlador da CTEEP, contou que a compra do lote D significou ultrapassar as fronteiras do Estado de São Paulo e afirma que este ativo será posto embaixo da CTEEP, quando o processo estiver finalizado. O executivo, contudo, não quis revelar quanto será necessário investir na construção do bloco, mas a Aneel estima pelo menos R$ 99 milhões. "Só posso dizer que deveremos recuperar esse investimento em seis anos", conta Rojas.

Já o diretor da Alusa, José Lázaro Rodrigues, informa que vai gastar R$ 90 milhões na construção das duas linhas de transmissão adquiridas. E diz que a empresa seguiu seu perfil neste leilão. "Temos interesse por lotes menores e agora esses 212 quilômetros se somarão aos 2,9 mil que já possuímos", diz.