Título: Juros em baixa tiram receita das empresas
Autor: Silva Júnior, Altamiro
Fonte: Valor Econômico, 27/11/2006, Finanças, p. C1

As seguradoras já começaram a se preparar para um cenário de juros menores. Maior eficiência, redução de custos e investimentos em tecnologia foram as formas encontradas para driblar a queda das receitas com as aplicações no mercado financeiro que veio com o início dos sucessivos cortes nos juros básicos a partir de setembro do ano passado. As seguradoras têm R$ 120 bilhões aplicados, dos quais mais de 90% em títulos públicos, os que mais sofrem com a queda dos juros.

Com as taxas menores, as seguradoras deixaram de ganhar este ano R$ 973 milhões com aplicações no mercado das suas reservas técnicas, segundo cálculos do consultor especialista no mercado de seguros, Luiz Roberto Castiglione, feitos a pedido do Valor. Ele considerou as taxas médias de retorno de 2005 em 2006. Considerando a taxa anual, a queda seria ainda maior, de R$ 1,2 bilhão.

Auxiliado pelas altas receitas das aplicações financeiras, as seguradoras brasileiras vem apresentando rentabilidade patrimonial elevada, na casa dos 27% ao ano. O ganho financeiro também vem sendo responsável por boa parcela dos altos lucros das companhias.

"As seguradoras terão que compensar a redução destas receitas com a melhoria do lado operacional", diz Castiglione. Para ele, elas terão que ficar mais rigorosas para aceitar riscos e melhorar ainda mais os critérios para definir preços.

Foi o que a Bradesco Seguros e Previdência, maior seguradora do país, fez. "A queda dos juros afetou muito pouco a seguradora, porque procuramos melhorar a eficiência e a sinistralidade", destaca Samuel Monteiro dos Santos, diretor geral. O índice combinado, que mede a eficiência operacional das empresas de seguros, registrou queda de 6,2 ponto percentual: baixou de 101,5% no terceiro trimestre do ano passado para 95,3% no terceiro trimestre deste ano. A sinistralidade baixou de 79,9% para 77,8%. Dois fatores explicam a melhora: melhor precificação dos seguros de carros com a adoção do questionário que avalia o perfil do comprador e o trabalho para reduzir custos no seguro saúde.

"Estamos olhando os custos operacionais com lupa", afirma Osvaldo do Nascimento, responsável pelas operações de seguros e previdência do Banco Itaú. "Não temos amor a nada que não seja performance", acrescenta, destacando que como a seguradora faz parte de um conglomerado, consegue utilizar melhor a estrutura do grupo. "Somos uma das seguradoras mais enxutas do país."

Na SulAmérica, a prioridade também foi buscar maior eficiência e custos menores, destaca seu presidente, Patrick de Larragoiti Lucas. Lá, o índice combinado baixou de 103% no primeiro semestre de 2006 para 99% em junho. Apesar da redução da receita financeira, Larragoiti avalia que a queda de juros pode beneficiar as seguradoras por outro caminho. A economia cresce mais e tende a aumentar as vendas de seguros. O resultado é o crescimento dos prêmios.

As altas receitas financeiras permitiam às seguradoras uma política mais ousada de preços. Nos ramos mais concorridos, como o de automóveis, a redução dos preços para ganhar mais clientes é prática comum. "Uma das consequências da queda da receita financeiras pode ser uma alta nos preços do seguro" avalia Cláudio Afif Domingos, vice-presidente da Indiana Seguros. Para ele, porém, o consumidor não está disposto a pagar mais pelo seguro, o que obriga as seguradoras a procurar melhorar a eficiência. Na Indiana, o setor de tecnologia é o que vem recebendo mais investimento.

Para reduzir custos, um movimento que vem ganhando força no mercado brasileiro recentemente é a terceirização. Seguradoras como Porto Seguro, Mapfre, Itaú e HDI já terceirizaram parte de suas operações. "Com os juros altos, as seguradoras tinham ganhos financeiros que compensavam algumas falhas operacionais", afirma Jorge Abel Peres, sócio da Bureau de Serviço de Seguros (BSS), empresa que oferece serviços para as seguradoras e que dobrou o número de clientes nos últimos seis meses. Segundo Abel, a terceirização permite que a seguradora se concentre no seu principal negócio e tenha redução de custos que pode chegar a 25%.