Título: Dilma, a razão de Lula
Autor: Alexandre, Carlos
Fonte: Correio Braziliense, 04/01/2011, Opiniao, p. 16

De todos os desafios que se apresentam a Dilma Rousseff, o maior deles é um gigante que atende pelo nome de Luiz Inácio Lula da Silva. Desde os tempos que Dilma comanda a Casa Civil, o ex-presidente a considerava responsável pelas ações mais importantes do governo. A mãe do PAC tornou-se a mãe de todos os brasileiros e tem a missão de dar continuidade ao legado do presidente mais popular do país desde a redemocratização. Não se trata de tarefa simples.

O preocupante endividamento das famílias brasileiras, associado a um quadro inflacionário com tendência a aumento de juros, constitui real ameaça para a estabilidade econômica. A necessidade de equilibrar as contas públicas, por seu lado, exigirá corte significativo no Orçamento da União e economia forçada nos investimentos, no funcionamento da máquina e na manutenção do quadro de servidores. Nos tempos de Lula, o ônus dessas tarefas ficava relegado aos ministros. Como Dilma Rousseff adota estilo mais inspecionador, é de se esperar que ela queira ver de perto se as medidas restritivas serão cumpridas. E o remédio amargo pode causar efeito colateral na popularidade da presidente.

Se a economia requer cautela e rigor, a área social representa oportunidade. Dilma assumiu o compromisso de erradicar a miséria, uma ¿vergonha nacional¿. O reajuste do Bolsa Família, outro trunfo lulista, é sinal de que o programa de transferência de renda continuará como pilar do governo petista. Eis um caminho no qual Dilma poderá desempenhar papel relevante, que agregará capital político precioso ao perfil gerencial que detém.

O fundamental para Dilma, neste momento, é adquirir luz própria. O governo ainda está muito influenciado pelo presidente-Sol, com ministério amplamente formado por ex-colaboradores de Lula ou indicados. O tempo dirá se a antiga orquestra seguirá o compasso da nova regente. Dilma já disse que não deixará de bater à porta de Lula. Do que se viu até o momento, ela desponta como a razão do político intuitivo que saiu do Planalto para se entregar aos braços do povo.