Título: "País que não tem oposição é ditadura", diz Tasso
Autor: Ulhôa, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 24/11/2006, Política, p. A6

O PSDB sinalizou ontem ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva que não pretende facilitar o segundo mandato do petista. A cúpula tucana respondeu ontem com aspereza à afirmação feita por Lula, de que a oposição deve deixar para agir somente em 2010, ano eleitoral.

Reunidos ontem em São Paulo, no apartamento do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o presidente do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE), o governador de Minas, Aécio Neves e o candidato derrotado à Presidência Geraldo Alckmin afinaram o discurso em torno de críticas à figura do presidente Lula. "O país que não tem oposição é ditadura", afirmou Tasso. "Reconheço que o PT tem tido um viés autoritário. Mas pode ter certeza de que o PSDB nunca vai permitir que isso (o autoritarismo) aconteça", disse. Em tom mais ameno, o governador Aécio Neves também pontuou que seu partido não vai deixar para fazer oposição apenas daqui a quatro anos. "Só quem não gosta de democracia é que rejeita a oposição", afirmou. Na análise feita pelo governador mineiro, as palavras de Lula são "sem sentido".

O governador eleito por São Paulo, José Serra, não participou da reunião organizada por Fernando Henrique, mas monitorou a conversa pelo telefone. Ao mesmo tempo, em sua casa, Serra recebeu o governador do Espírito Santo, Paulo Hartung (PMDB), para discutir o apoio dado pelos pemedebistas ao presidente Lula. Hartung foi um dos participantes do encontro de 16 governadores eleitos e reeleitos com o presidente Lula, ontem à tarde, em Brasília.

Depois da reunião da cúpula tucana, Tasso Jereissati disse ainda não ter recebido nenhum convite de Lula para conversar no Planalto e adiantou que o PSDB vai continuar no campo oposto ao PT "dentro dos limites da civilidade". Além do debate sobre a estratégia que será usada para que o PSDB rivalize com o governo, os tucanos discutiram também sobre a crise de identidade vivida pela legenda.

Os tucanos planejam uma reformulação do programa do partido, que será levada à público no próximo ano, no Congresso da legenda. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso será o responsável por organizar as propostas levantadas pelos integrantes do PSDB. "O PSDB não pode ser um partido que vive apenas em função das eleições. Temos o dever de revisitar o programa do partido, de atualizá-lo e de perceber o que está acontecendo no mundo", disse Aécio.