Título: Paes de Andrade resiste a aceitar ordens de Amorim
Autor: Ulhôa, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 24/11/2006, Política, p. A6

O embaixador do Brasil em Portugal, o ex-presidente do PMDB, Paes de Andrade, desabafou mágoas que vem acumulando do governo, nas duas últimas semanas, em conversa com políticos de diferentes partidos. Paes, fortalecido pela coalizão de governo que inclui seu partido, disse a amigos que não vai aceitar ordens do ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, para entregar ao governo português o pedido de agrément para o seu substituto.

Paes de Andrade disse a estes interlocutores que só sai da embaixada depois que o próprio presidente Lula lhe disser que precisa do cargo. Antes disso sequer encaminha o pedido de aprovação para o novo embaixador indicado.

Foi comunicado a Paes de Andrade que encaminhe ao governo português o pedido de aprovação para o embaixador Celso Marcos Vieira de Souza, atualmente na embaixada brasileira em Viena, Áustria.

Dificilmente a reação negativa de Paes será obstáculo à execução da orientação do presidente com relação aos postos da diplomacia no segundo mandato. Lula avisou a Amorim que poderia dispor de todos os cargos em todos os países, nomeando para eles embaixadores da carreira. O rompimento da tradição de designar políticos para a Embaixada em Lisboa, onde não há a barreira do idioma, foi motivo de comemoração na chancelaria brasileira.

O petista Tilden Santiago, amigo de Lula, que estava em Cuba, foi substituído pelo embaixador de carreira Bernardo Pericás. Para o lugar de Paes de Andrade, foi designado Celso Marcos.

Há dois caminhos para o governo brasileiro driblar a resistência de Paes de Andrade: chamar o embaixador de Portugal no Brasil, Francisco Seixas da Costa, ao Itamaraty e encaminhar o pedido de agrément por seu intermédio; ou o chanceler brasileiro telefonar ao colega português e encaminhar o pedido por cima.

Em ambas as formas, Paes de Andrade terá que sair da embaixada. O ministro das Relações Exteriores só determina substituições de representantes do governo brasileiro depois de ouvir o presidente da República. Neste caso não foi diferente.