Título: Americanas.com e Submarino querem internacionalização
Autor: Adachi, Vanessa
Fonte: Valor Econômico, 24/11/2006, Empresas, p. B3

Depois de unir suas forças e criar um supersite de varejo eletrônico com a fusão anunciada ontem, Submarino e Americanas.com não se contentam com menos: querem ganhar força para competir com o varejo tradicional e, ao mesmo tempo, buscar o mercado externo.

"Se a proposta for aceita por nossos acionistas, a empresa será mais ágil para desenvolver novos negócios e se expandir até internacionalmente", afirmou Flávio Jansen, presidente do Submarino e indicado para co-presidir a nova empresa durante o primeiro ano, ao lado de Anna Saicali, executiva-chefe da Americanas.com.

A fusão ainda está sujeita à aprovação dos acionistas do Submarino em assembléia, que deve ocorrer ainda em dezembro.

Ao comentar o negócio, Roberto Martins de Souza, diretor de relações com investidores da Lojas Americanas S.A. (Lasa), que será a sócia majoritária da nova companhia, foi ainda mais enfático. "A intenção é expandir para a América Latina, em países como México, Argentina e Chile, e também outros emergentes, como Índia", afirmou.

A ambição de extrapolar as fronteiras nacionais está anunciada no nome escolhido para batizar a empresa, que imediatamente já responderá por mais de 50% do comércio eletrônico do país: B2W Companhia Global de Varejo. Jansen explicou que B2W é uma brincadeira com os termos B2B e B2C muito usados no setor de comércio eletrônico. Mas, no caso, o B e o C foram substituídos pelo W de mundo, em inglês (world).

Segundo Souza, a expansão internacional do varejo eletrônico é mais fácil, pois não exige a abertura de lojas. "Ganha-se escala mais rapidamente; é preciso escolher países com população e renda."

De acordo com Jansen, há muitos países no mundo com bom porte e que não têm um varejo a distância desenvolvido (televisão, internet, catálogo). "Vemos uma grande oportunidade aí."

E a fusão não atrairia um grande comprador, como a gigante americana Amazon? "Eu diria que queremos competir com eles", arrisca Jansen. Souza, da Lasa, vai na mesma linha. "Vamos criar uma empresa que fatura mais de US$ 1 bilhão e que tem indicadores de performance superiores aos da Amazon." Enquanto a margem operacional da Americanas.com está em 13% e a do Submarino é de 10%, a da Amazon está em 6%, cita.

O principal fator que motivou a fusão, de acordo com o presidente do Submarino, foi criar um site com musculatura suficiente para concorrer com o varejo tradicional no país. "O varejo tradicional tem empresas muito maiores que a nossa e precisávamos de maior escala para competir. Agora, teremos condições melhores para negociar com os fornecedores."

Uma pesquisa indicou que o usuário típico do site adquire no Submarino apenas 4% do que poderia comprar. "O restante ele compra no varejo tradicional."

As duas empresas calculam obter sinergias de, no mínimo, R$ 800 milhões (a valor presente). Mas o número pode crescer muito. Ao comprar o Shoptime, no ano passado, a Americanas calculou sinergias de R$ 50 milhões e até agora já conseguiu capturar R$ 160 milhões, diz Martins.

"Teremos ganhos de escala e poderemos poupar investimentos, planejar melhor o call center, além de não precisar duplicar várias funções", disse Jansen. Os executivos destacaram que um dos principais ganhos será "de inteligência". "Hoje uma empresa tem uma ótima idéia e a outra tem que tentar adivinhar e copiar", disse Jansen.

Para quem acha que a maior concentração de mercado e a busca por sinergias pode significar redução de regalias para o consumidor, como o famoso "frete grátis", Jansen diz que não. O caminho, segundo ele, é justamente o oposto: mais agressividade para capturar clientes do varejo tradicional.

Na visão do executivo, os dois sites são complementares. Enquanto o Submarino tem um histórico mais forte na internet, a Americanas tem um perfil "multicanal". "Eles são uma escola de varejo."

As três marcas - Submarino, Americanas e Shoptime - serão preservadas, assim como as equipes responsáveis por cada uma delas. "Elas têm valores bastante diferentes", disse Jansen.

A transação prevê que o Submarino fará uma distribuição prévia de dividendos a seus acionistas de R$ 500 milhões, enquanto a Lasa injetará pelo menos R$ 175 milhões no caixa da Americanas.com. Embora o Submarino tenha menos da metade do tamanho da Americanas.com, seus acionistas receberão 46,75% da B2W. A Lasa ficará com a maior fatia do capital do novo site, ou 53,25%.

Embora seja a controladora da companhia resultante, a Lojas Americanas terá seu poder contido por alguns dispositivos contidos num documento chamado de "Termo de Voto e de Assunção de Obrigações", que regerá a governança corporativa do site.

Basicamente, o documento prevê que certas matérias só serão aprovadas com o voto da maioria absoluta dos conselheiros de administração independentes da B2W. O conselho terá nove membros, sendo cinco indicados pela Lasa e quatro, independentes.

De acordo com Jansen, qualquer operação com partes relacionadas, por exemplo, só irá adiante se três dos quatro conselheiros independentes concordarem. A Lasa também ficará restrita para adquirir mais ações da B2W no mercado. Terá que respeitar limites pré-determinados e sempre contar com a aprovação da maioria dos conselheiros independentes.

Ontem, as ações do Submarino dispararam, enquanto os papéis da Lasa caíram. O movimento, segundo pessoas próximas à operação, era esperado, já que há vantagem mais clara e imediata para os acionistas de Submarino, que receberão alto prêmio.

A Comissão de Valores Mobiliários vai apurar se houve uso de informação privilegiada na negociação com os papéis das empresas, que registraram forte alta nas últimas semanas.