Título: Saúde, ponto para o Brasil
Autor: Guimarães, Lázaro
Fonte: Correio Braziliense, 04/01/2011, Opiniao, p. 17

O Brasil alcançou, nos últimos 16 anos, um nível bastante razoável no setor de saúde, tanto público quanto privado. O ministro Alexandre Padilha tem a missão de dar continuidade a esse ciclo virtuoso e, sem dúvida, reúne os predicados necessários a uma boa gestão. É médico sanitarista, cuja formação se volta especialmente para a prevenção de doenças, para a erradicação das causas de endemias e dos males que colocam em perigo o organismo humano, no âmbito comunitário, e tem, ainda, a experiência do político, inclusive do articulador entre o Executivo e o Congresso, o que o habilita à obtenção de recursos para realizar os projetos da área. Neste momento, vale tratar da matéria. Seguem alguns dados recolhidos de experiência pessoal, nos últimos dias.

No curso de uma forte gripe, após viagem que seria de uma hora de avião, entre Recife e Salvador, mas custou um total de cinco horas, incluída a espera no aeroporto, uma síncope abate este escriba no restaurante do hotel. Os garçons acorrem, o gerente chama o Samu. Informado de que poderia ligar para o serviço particular de assistência, revela que com certeza a ambulância pública chegaria bem mais rapidamente, e assim acontece. Técnicos hábeis e bem aparelhados fazem a remoção ao hospital, onde se deu o atendimento de emergência, com eficiente atuação de médicos, enfermeira e auxiliares, exames laboratoriais e de imagem, inclusive ressonância magnética, em plena madrugada da véspera de Natal (prova de que baiano não tem nada de vagaroso).

Veja-se agora a diferença da presteza desse atendimento com a que, horas mais tarde, um dos filhos deste mesmo escriba teria que enfrentar na Flórida. Acometido de uma rutura no intestino grosso, foi levado a moderno hospital, onde somente três dias depois conseguiu se submeter a uma ressonância magnética e durante todo o dia 25, por ser feriado, não pôde contar com assistência médica especializada, pois só estavam em serviço alguns estudantes residentes.

São bastante reduzidos os elementos que permitam a comparação entre o nosso sistema e o norte-americano, este último recentemente alterado com alarde como compromisso de campanha do presidente Barack Obama. Observe-se, porém, que nos dois exemplos os pacientes contaram com o benefício do seguro-saúde, mas a atuação médico-hospitalar brasileira se fez com prontidão e eficiência, enquanto a americana foi mais lenta, gerando sofrimento e angústia que poderiam ser atenuados.

É indispensável superar ainda muitos obstáculos, desde as condições precárias de higiene nas comunidades carentes, a insuficiência da rede de saneamento, a falta de médicos nas pequenas cidades do interior, até as restrições impostas pelos planos de saúde, por exemplo, para cobertura da implantação de prótese cardíaca (stent), apesar da extrema necessidade desse procedimento para salvar o paciente.

Toda essa narrativa se faz como estímulo aos que trabalham no ramo da saúde em nosso país, desde o ministro até os servidores de clínicas, ambulatórios e hospitais, médicos, enfermeiros, auxiliares de enfermagem, esses profissionais abnegados, que se expõem a fatores diversos de risco, são geralmente mal remunerados, mas com os quais contamos nas horas mais difíceis de nossas vidas.