Título: Plano confirma mais 4 usinas nucleares
Autor: Rittner, Daniel
Fonte: Valor Econômico, 23/11/2006, Brasil, p. A5

O governo deverá investir na construção de mais quatro usinas nucleares até 2030, além de Angra 3, para atender ao aumento do consumo de energia brasileiro, segundo recomendações traçadas pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE), vinculada ao Ministério de Minas e Energia. O consumo crescerá cerca de três vezes até o final do período estudado, levando em consideração duas premissas básicas: expansão econômica de 4,1% ao ano, em média, e o acréscimo de 53 milhões de habitantes na população, número que equivale a um "novo" Nordeste.

As quatro usinas terão capacidade para gerar 1.000 megawatts (MW) cada. Duas delas estão previstas para o Sudeste; as outras duas, no Nordeste. A localização específica depende de estudos mais aprofundados. O cronograma sugerido pela EPE para a entrada em funcionamento das centrais é o seguinte: uma no período 2016-2020, outra entre 2021 e 2025 e duas no período 2026-2030. O início das operações de Angra 3, que deve gerar 1.300 MW, é previsto para janeiro de 2013.

A sugestão das quatro novas centrais nucleares consta do Plano Nacional de Energia 2030 - Estratégia para a Expansão da Oferta, apresentado ontem pelo presidente da EPE, Maurício Tolmasquim. Ele informou que o preço médio de geração das usinas atômicas, sem levar em conta impostos e custos de conexão com o sistema interligado, foi estimado em US$ 50/MWh, valor que coloca a energia nuclear em níveis competitivos com outras fontes.

De acordo com Tolmasquim, a retomada de projetos nucleares nos países desenvolvidos é um fator a ser levado em conta, pois cria escala industrial e barateia equipamentos, mas não é o ponto preponderante. O mais importante, na avaliação dele, é que o Brasil tem grandes reservas de urânio e o combustível usado nas centrais poderá ser inteiramente nacional.

O plano da EPE não constitui uma política de governo, é apenas uma sugestão para reforçar a programação futura do setor, frisa Tolmasquim. Mesmo assim, coloca a construção de novas usinas nucleares em pauta. No mês passado, a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, colocou o assunto em discussão, em entrevista ao Valor. Estudo oficial coordenado pela Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) previa mais sete usinas até 2025, incluindo Angra 3.

Nos cálculos apresentados por Tolmasquim, que representam a versão preliminar do plano, a expansão nuclear (4.000 MW) corresponde a 3,8% dos projetos de expansão de energia entre 2016 e 2030. São, no total, 105.650 MW na carteira de projetos. As hidrelétricas respondem pela maior parte da oferta, mas com participação menor do que a atual proporção de 75% na matriz energética. A EPE projetou mais 61.300 MW de fonte hídrica - três quartos dos aproveitamentos no Norte e Nordeste, com destaque para a Amazônia.