Título: Cabral contraria pedido de Garotinho e convida Benedita
Autor: Ulhôa, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 23/11/2006, Política, p. A9

O governador eleito do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral Filho, nomeou ontem seis secretários que irão integrar a sua equipe a partir de 1º de janeiro de 2007. A ex-governadora do Rio Benedita da Silva e o deputado estadual reeleito Carlos Minc, ambos do PT, foram confirmados nas pastas de Ação Social e Direitos Humanos e Meio Ambiente, respectivamente.

Mas a nomeação de Benedita pode azedar a já estremecida relação de Cabral com o ex-governador do Estado do Rio, Anthony Garotinho. Assessores ligados a Garotinho, contam que o ex-governador teria feito um apelo a Cabral num café da manhã no Palácio Laranjeiras, residência oficial do governo, para que não convidasse Benedita. A tentativa, no entanto, parece não ter surtido efeito. "O governador eleito fui eu. Quem escolhe o secretariado sou eu. Nunca interferi nas escolhas de nenhum governo", disse Cabral ontem durante o anúncio dos secretários.

A aliança com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva no segundo turno das eleições foi o primeiro grande golpe na parceria de Cabral com a governadora Rosinha Matheus e seu marido, Garotinho. Durante a campanha para o segundo turno, o governador eleito também procurou manter distância do casal.

O atraso na entrega de parte do relatório com informações sobre as finanças do Estado solicitadas por Cabral à Rosinha também tem causado mal-estar entre as duas equipes de transição. O governador eleito encaminhou o documento à governadora há duas semanas e ainda aguarda uma resposta. Questionado se a demora na entrega do relatório já estaria prejudicando o andamento dos trabalhos de sua equipe, Cabral preferiu não responder.

Ele disse ter buscado a experiência administrativa para definir os nomes dos secretários, mas admitiu que a participação do PT no seu governo facilita sua aproximação com o governo federal. "A escolha de Benedita e de Minc foram administrativas. O ponto de vista político está assegurado pela relação com Lula", disse Cabral. Benedita, por sua vez, frisou que sua participação é fruto de alianças políticas. Ela afirmou não se arrepender de ter participado do governo de Garotinho, assim como espera não se arrepender de participar do governo de Cabral.

"Fiz parte de um projeto de sustentação do Estado do Rio. Na política você tem bons e maus tempos. Todo e qualquer projeto pode correr todos os riscos possíveis. Mas o PT está acreditando que o governo de Sérgio (Cabral) será muito diferente", disse Benedita. "Brigas não ajudaram até hoje o Estado a ter o seu projeto. Não me arrependerei de fazer parte de nenhum projeto político".

Segundo Minc, que é próximo ao governador eleito há várias legislaturas, a proposta foi "irrecusável" por dar carta branca na escolha dos demais integrantes da pasta e liberdade na ação em defesa do meio ambiente do Estado. Já Benedita afirmou que não fará modificações nos atuais programas sociais e vai trabalhar para identificar sobreposições entre projetos dos governos federal e estadual. Ela também pretende fazer um recadastramento dos beneficiados pelos programas do Estado.

Apesar das divergências com o ex-governador, adversário ferrenho do PT, Cabral aproveitou alguns dos secretários nomeados pelo casal. Chistino Áureo continuará à frente da Agriculura. O vice-governador do Estado, Luiz Paulo Conde, assumirá a Cultura. Luiz Fernando Pezão, que já foi secretário de Governo de Rosinha, acumulará os cargos de vice-governador e de secretário de Obras.

Cabral também anunciou o deputado estadual Noel de Carvalho, ligado a Garotinho, como secretário de Habitação e Wilson Carvalho como secretário de Governo. Este último foi assessor da campanha de Cabral e chefe de gabinete quando o governador eleito era deputado. O objetivo declarado do governador eleito é ter aproximadamente o mesmo número de secretarias do atual governo de Minas Gerais, 17. Atualmente são 32.

A expectativa é de que hoje o governador eleito anuncie os titulares das pastas de Esporte e Turismo, Ciência e Tecnologia, Justiça e Fazenda. Auxiliares do governador dão como praticamente certa a nomeação do ex-secretário do Tesouro Joaquim Levy para a Fazenda.

A nomeação de Levy colocaria uma pá de cal na relação de Garotinho e Cabral. Durante sua gestão na secretaria do Tesouro, Levy congelou, no início do governo Rosinha, os repasses constitucionais da União para o Estado por conta da inadimplência no pagamento da amortização da dívida com a União.

Hoje Cabral se reúne, em Brasília, com governadores que apóiam Lula e com o próprio presidente. (Com agências noticiosas)