Título: Governadores levam reivindicações a Lula
Autor: Ulhôa, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 23/11/2006, Política, p. A9

Governadores eleitos de partidos alinhados ao Palácio do Planalto apresentam hoje ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva o compromisso com a governabilidade no segundo mandato do petista e uma agenda de interesse dos Estados, que incluirá a situação de endividamento em que se encontram. "É mais fácil alguém entrar em uma igreja e não rezar do que um governador entrar no Palácio do Planalto e não falar de dívida", afirmou Marcelo Déda (PT), governador eleito de Sergipe.

O encontro - um almoço, em Brasília - deve reunir de 15 a 16 eleitos do PT, PMDB, PSB e Blairo Maggi (MS), que deixou o PPS por apoiar a reeleição de Lula. Segundo Jaques Wagner (PT), governador eleito da Bahia, a reunião dará início a uma espécie de "fórum organizado" da relação dos governadores da base governista com o presidente.

Segundo Déda, a reunião com Lula terá dois eixos de discussão. Primeiro, os governadores reconhecerão a importância de apoiar "a construção de uma nova governabilidade, fundada no conceito de governo de coalizão, para permitir ao país mais estabilidade política".

O segundo ponto da agenda com Lula tratará dos temas de interesse aos Estados. Essa agenda será discutida hoje, às 10h, entre os governadores, antes do encontro com o presidente. Devem ser discutidas a questão da reforma tributária e a necessidade de renegociação de dívidas estaduais.

"É claro que o tema vai ser tocado. É legítimo. Mas não haverá nenhuma faca no pescoço. Queremos inaugurar um diálogo e não uma relação de pressão e emparedamento", disse o governador eleito de Sergipe.

Os aliados de Lula também devem apresentar propostas para o crescimento do país. Déda lembrou da reclamação do presidente da "falta de ousadia" dos ministros encarregados de lhe apresentar um plano de medidas para o desenvolvimento do país. "Acho que os governadores não vão cometer esse pecado. Vamos ter um pouquinho de ousadia, mas com responsabilidade", disse.

Num momento em que Lula procura ampliar sua interlocução com setores da oposição, inclusive com governadores do PSDB e do PFL, a iniciativa causou desconforto em setores da base. Um dos convidados manifestou, reservadamente, a avaliação de que não é hora de criar divisão entre os governadores. Segundo ele, há uma pauta nacional, comum a todos os partidos, que deveria ser esgotada.

O petista Jaques Wagner afirmou considerou "legítima" uma articulação dos governadores alinhados para "estreitar relação" com Lula, assim como os partidos fazem reunião entre seus representantes eleitos.

"É óbvio que não estamos construindo palanque. Estamos fazendo uma articulação de governadores que comungam de algumas idéias e do apoio ao presidente. Mas não há tentativa de criar grupo A ou grupo B. A articulação é natural", afirmou Jaques Wagner. Na sua opinião, também caberá um fórum de todos os governadores. "Mas, aqueles que participaram de um projeto nacional, que defenderam a candidatura do presidente Lula, têm um alinhamento de projeto diferenciado", disse o petista.