Título: Negociações para retomar Rodada Doha ainda estão "na cozinha", diz Lamy
Autor: Leo, Sergio
Fonte: Valor Econômico, 23/11/2006, Especial, p. A14

As negociações multilaterais da Organização Mundial do Comércio (OMC), que foram recentemente retomadas no nível técnico, estão "na cozinha e não na sala de jantar", disse ontem, em Montevidéu, o diretor-geral da entidade, Pascal Lamy. Convidado a ir ao Uruguai para o 20º aniversário do lançamento da Rodada Uruguai no âmbito do Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio (GATT), predecessor da OMC, ele comemorou o relançamento do processo, mas ressaltou que as discussões ocorrem nos grupos de trabalho.

"É um trabalho de cozinha e os ministros que tomam as decisões finais ainda não foram convidados para o jantar", afirmou, durante entrevista coletiva. As negociações multilaterais -interrompidas em julho -, foram retomadas "porque todo mundo estava de acordo". Mas, "é preciso transformar esses sinais políticos em sinais técnicos", disse Lamy à agência France Press.

De acordo com comentários feitos pelo ministro da Economia do Uruguai, Danilo Astori, após uma reunião com Lamy, o diretor-geral da OMC disse que a retomada das negociações antes de março "é necessária e possível".

"O período de interrupção teve essa utilidade: as pessoas se perguntaram o que aconteceria se a Rodada (de Doha, aberta em 2001 para discutir os subsídios dos países ricos, tendo em vista o fortalecimento do sistema multilateral de comércio) não chegasse a um resultado", afirmou. Em caso de fracasso de Doha, "teríamos más notícias para a economia mundial num momento em que ela não está tão próspera quanto há quatro ou cinco anos, haveria um risco elevado de protecionismo".

É por essa razão, segundo ele, que os países em desenvolvimento são os "mais engajados" para pedir uma retomada do processo da OMC. "Os principais atores são aqueles que devem tomar as decisões mais importantes", estimou, citando os Estados Unidos, a União Européia e o Japão.

Lamy pediu para esses países "fazerem esforços suplementares" em relação às posições expressas em julho, reduzindo os subsídios no caso dos Estados Unidos e melhorando o acesso a mercados nos casos europeu e japonês. "Os Estados Unidos, o Japão e a União Européia disseram que seriam flexíveis, o que permitiu o relançamento das discussões, mas eles ainda não disseram o quanto vão mudar suas posições", afirmou Lamy. (Agências noticiosas)