Título: Lula rebate críticas de Furlan à política externa
Autor: Taciana Collet e Henrique Gomes Batista
Fonte: Valor Econômico, 19/01/2005, Especial, p. A12

Diante de uma platéia de empresários, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu ontem a política externa do governo em uma resposta direta às críticas do ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan. O presidente ressaltou que, no cenário econômico mundial, o Brasil "partiu para cima do adversário", deixando de ser um agente passivo, mas sem "comprar briga" com as grandes potências. E argumentou que a estratégia de procurar parceiros pelo mundo foi tomada justamente para que o Brasil não ficasse dependente das duas maiores economias mundiais - Estados Unidos e União Européia. "O Furlan sabe que não faltaram pessimistas para dizer que com esse negócio de fazer parcerias com China, Índia e África do Sul, de tentar integrar a América do Sul, de criar o G-20, o Brasil ia acabar arrumando briga com Estados Unidos e não seria bom para o país", lembrou. "Mas nós nunca tivemos intenção de brigar com os Estados Unidos, seria quase que rasgar uma nota de US$ 100, já que eles são o nosso maior parceiro comercial. Também jamais seria louco de brigar com a União Européia." Na semana passada, o ministro Furlan disse, ao jornal "O Estado de São Paulo", que setores no governo ainda não entenderam que o grande mercado a abrir é justamente o dos países ricos e que se o Brasil conseguisse avançar nos acordos com Alca e União Européia os "frutos seriam mais rápidos" do que nos acordos "limitados" fechados com o Grupo Andino ou com mercados pouco expressivos. A resposta de Lula veio ontem, durante a solenidade de posse do novo presidente do Sebrae, Paulo Okamotto. Na presença de Furlan, Lula fez questão de dizer que com os novos parceiros o potencial de penetração do Brasil é muito maior do que em economias já fortalecidas como os Estados Unidos. "Não adianta o Brasil ficar chorando e dizendo que nós somos um país em desenvolvimento, que temos criancinha de rua, violência, que eles vão ter dó de nós", desabafou. "Precisávamos criar alternativas para que eles descobrissem que não éramos tão dependentes como eles imaginavam." Ao discursar, Lula voltou a dizer que Furlan foi escolhido para o cargo de ministro do Desenvolvimento para trabalhar como um "mascate" para vender o Brasil no exterior. E citou como exemplo a atuação do ministro no caso da venda da manga para os japoneses, que ficaram 27 anos sem comprar a fruta brasileira por causa do "bicho da mosca". "Nós do Brasil não estamos ligando para isso, nós comemos tudo, mas eles têm mais requinte", brincou Lula. Furlan riu. Lula comparou a atuação do ministro - durante as negociações com os japoneses - a do jogador de futebol Procópio, do São Paulo, na década de 60 . "O Furlan parecia aquele beque central, o Procópio - já entrou chutando canela. 'Por que não compram a nossa manga?' Quando o primeiro-ministro do Japão veio aqui, servimos manga de sobremesa. Quando os chineses vieram, servimos carne." O presidente reforçou que essa deve ser a estratégia do Brasil. O presidente também aproveitou o momento para dizer que, nos primeiros 18 dias do ano, ele já recebeu mais informações de investimentos no Brasil do que nos últimos seis meses do ano passado. "Já houve muitos presidentes ligados aos empresários, mas duvido que, em algum momento, os empresários tiveram a abertura de negociação que têm no nosso governo."