Título: Estudo não detalha corte de R$ 50 bilhões para a Previdência
Autor: Moreira, Ivana
Fonte: Valor Econômico, 22/11/2006, Brasil, p. A4

Há pelo menos duas semanas, uma equipe de consultores trabalha em Nova Lima, na sede do Instituto de Desenvolvimento Gerencial (INDG), detalhando o projeto de reestruturação financeira para a Previdência Social que será encaminhado ao governo federal. A idéia é introduzir na Previdência ferramentas de gestão comuns na administração das instituições financeiras, muitas delas clientes do INDG. "A Previdência é como um banco, ela arrecada e distribui", argumenta fonte próxima ao coordenador do trabalho, o engenheiro Vicente Falconi.

Presidente e fundador do INDG, Falconi não quer dar entrevistas até o projeto estar concluído. Mas técnicos ligados ao instituto garantem que há muita especulação na mídia sobre o assunto. O trabalho entregue pelo empresário Jorge Gerdau ao ministro da Fazenda, Guido Mantega, não prevê, por exemplo, uma redução de R$ 50 bilhões nas despesas da Previdência. O que Falconi concluiu é que, se fosse administrado como um banco, a Previdência poderia ter hoje um lucro anual de R$ 17 bilhões, em vez do déficit de R$ 38 bilhões. Dessa diferença saiu o cálculo da economia de R$ 50 bilhões

O estudo, explica a fonte, é apenas um ponto de partida para a discussão, com sugestões em diferentes linhas que estão sendo detalhadas pelos consultores do instituto, conforme combinado com o ministro. A proposta inclui medidas como mudanças na tecnologia de informação da Previdência, para evitar as fraudes. Ainda não há um prazo definido para a conclusão do trabalho dos consultores ou uma reunião já marcada para apresentar o detalhamento ao governo federal. Mesmo depois de concluída a proposta do INDG, será difícil prever, de antemão, o que ela representará em redução de despesas para a Previdência.

Os consultores do instituto costumam lembrar que o resultado depende do comprometimento dos governos - e dos funcionários públicos - com as metodologias implementadas. Ferramentas de gestão semelhantes colocadas em prática em Minas Gerais e no Rio Grande do Sul resultaram em números diferentes, por exemplo.

Vicente Falconi, que presta consultoria aos gaúchos há dois anos, chegou a declarar que estava decepcionado com os resultados obtidos por lá, abaixo do que previa. Nas áreas onde foram implementadas, as metodologias de controle dos gastos resultaram numa queda de 9% das despesas, o que representou uma economia de R$ 130 milhões. Em áreas onde as ferramentas de gestão não foram aplicadas, as despesas cresceram 16%. Segundo o presidente do INDG, faltaram "fé, dedicação e vontade para conduzir o projeto".

Respeitado na iniciativa privada, Falconi vem aplicando suas metodologias de gestão na administração pública com o patrocínio das próprias empresas clientes do seu instituto, como o grupo Gerdau. Foi assim em Minas Gerais, na gestão do tucano Aécio Neves (PSDB), a maior vitrine do trabalho do instituto. O INDG atuou como consultor do programa Choque de Gestão, que levou o Estado a zerar o déficit orçamentário que era de R$ 2,3 bilhões, em 2003, quando o tucano assumiu.

Em Minas, o trabalho do instituto custou R$ 9,6 milhões, entre 2003 e 2004. Os honorários dos consultores foram pagos pela Companhia Vale do Rio Doce, Gerdau, Votorantim, Fundação Brava (ligada à Ambev), Fundação Djalma Guimarães (ligada à Companhia Brasileira de Minérios e Metais) e Belgo Mineira. "É uma ação complementar do ponto de vista de processos extremamente interessantes que obviamente têm de ser adaptados à realidade de cada máquina pública", comentou ontem Aécio Neves, quando questionado sobre a proposta de Falconi para a Previdência.

No Estado, porém, houve resistência de setores do funcionalismo público aos métodos de gestão por excelência, atrelados a metas de desempenho e resultado. Os fiscais da Receita Estadual impetraram ação no Ministério Público para impedir o acesso dos consultores às informações dos contribuintes.

Apresentados pelo governador mineiro, os consultores do instituto mineiro acabam de ser contratados pelo governador eleito do Rio, Sérgio Cabral (PMDB). O INDG também presta serviços para Estados como Ceará, Sergipe e Bahia. Além de reestruturação financeira, propondo mecanismos para redução de despesas e crescimento da receita, o instituto tem atuado em programas de gestão educacional.

O projeto para a Previdência Social não é a primeira proposta apresentado por Falconi ao governo Lula. Em junho de 2004, Falconi esteve com o ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu, para apresentar uma proposta de gerenciamento de projetos para a Presidência da República. Na época, a gestão petista sofria com as críticas ao emperramento de projetos com o Fome Zero ou o Bolsa Família. E o ex-ministro entusiasmou-se com as propostas do especialista mineiro, recomendado por Aécio Neves.

Oficialmente, contudo, o governo acabou voltando atrás e dispensando a consultoria depois que Falconi deu entrevista ao Valor, criticando publicamente a falta de metodologia da gestão petista. Na reportagem, o presidente do INDG falava sobre um "projeto B" para o governo federal, que ainda precisava ser mantido em sigilo. "É numa área realmente decisiva para o país, mas é uma área onde é preciso fazer um trabalho político antes", explicou Falconi, na ocasião. Ao que tudo indica, ele já trabalhava na proposta para Previdência.

O INDG já trabalhou para governo federal, por duas vezes, contratados por Pedro Parente, no governo Fernando Henrique Cardoso. A primeira foi em meados da década de 90, quando Parente era secretário executivo da Fazenda e colocou em prática um programa de desenvolvimento de arrecadação. A segunda foi na crise do apagão. O instituto desenvolveu um sistema para o gerenciamento da crise.